sexta-feira, 23 de setembro de 2016

David Gilmour - "Smile"

"Leaving is a better way to find my way home to your smile"


Adeus, David Gilmour (outra vez)

Esta é mesmo a última vez, agora é que é, a sério

Estive no primeiro (Pula), no segundo (Verona) e no terceiro (Firenze). Depois fui ao primeiro americano (Hollywood #1) e ao segundo americano (Hollywood #2). Depois presenciei o mais importante de todos (Pompeii) na primeira fila e prometi que seria o último. Menti.



Sou de impulsos, é certo. Mas isto é mais do que só um impulso. Sabem quando se vêem subjugados pelo peso da vida e sentem que têm que fazer alguma coisa? Pois, nessas situações, eu tenho duas coisas que nunca falham: Londres e David Gilmour. Quando as duas se juntam e cai no colo a oportunidade de ficar num lugar de luxo, numa sala lendária, numa ocasião irrepetível (the very last date of the tour), numa altura em que é exactamente disto que eu preciso, como recusar?

Chocada com a notícia, a minha mãe já me perguntou por que eu não me caso com o David Gilmour. Eu disse-lhe que apesar do amor não escolher idades, até ele é demasiado velhinho para mim. Bem sei que lhe disse adeus em Pompeia, mas depois de ter estado em todos os concertos importantes da Rattle That Lock Tour, não podia faltar ao último dos últimos. É um fecho de ciclo perfeito.

Agora sim, pela última vez, adeus David Gilmour. E obrigado por tudo. I love you.

P.S.: Para celebrar este momento, fiquem com "Smile" que, qual coincidência, acabei de encontrar, imaginem, numa mixtape velhinha.

P.P.S.: A minha mãe já está descansada. Depois de dizer que ia a Londres, disse-lhe que a escolha era isto, ou apanhar um avião para Denver (🎶é um dinossauro🎶) e ver os Tears For Fears em Red Rocks. Ficou logo mais aliviada.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Eurythmics - "I Saved The World Today"

"There's a hurting thing inside, I've got everything to hide"


Restaurar cópia de segurança?

A música como máquina do tempo

Sabem quando instalam um novo sistema operativo no telemóvel, mas depois de uns tempos de utilização, vêem que nada funciona como queriam e após muito batalhar, chegam à conclusão que a única maneira de corrigir a merda que fizeram é restaurar as configurações gravadas na última cópia de segurança? Sabem? É o mais próximo da máquina do tempo que o homem já inventou. Desse a vida para restaurar a última cópia de segurança e seria tudo tão mais fácil. Máquinas do tempo não existem na Fnac e provavelmente não viverei até ver essa secção ao lado dos televisores a cores. Mas tenho a música.

A única forma que tenho de fugir ao novo sistema operativo que incautamente instalei na minha cabeça, é ouvindo uma música que teleporta o meu mindset para um lugar seguro e soalheiro e assim restaurar as definições que estão gravadas na melodia do tema. Ancorar ali em segurança, nem que seja só por três minutos de sol.

Ao ouvir a música em repeat, uma, duas, três, dez vezes, a app do subconsciente irá activar o sistema de protecção e com vários pop-ups perguntar ao consciente "Tem a certeza que pretende voltar às definições gravadas quando ouviu esta música?". Como se houvesse dúvidas. O problema são os impulsos não civilizados do inconsciente - esse filho da puta - que se manifesta inexoravelmente até foder a vida a um gajo, deitá-lo abaixo com sentimentos e memórias de momentos perigosamente felizes, quais doses de heroína, instantâneas e fugazes, que fogem para dar lugar à miséria do consciente.

A minha cópia de segurança está gravada algures em 1999, altura em que passava na Rádio Comercial este "I Saved The World Today" dos Eurythmics. Nunca fui fã da banda (tirando o "Sweet Dreams (Are Made Of This)", que é uma malha do cacete), mas este tema, oh it takes me back, back to that safe place.
Tinha escrito mais um parágrafo sobre o lugar onde está a cópia de segurança e por que está ali guardada, mas temo que este post já esteja suficientemente depressivo. Descansem, os meus pulsos estão intactos e estou provavelmente a ouvir em repeat a playlist da Rádio Comercial de 1999.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Crowded House - "Weather With You"

"You can fight the sleep, but not the dream"
Estava eu a vasculhar o meu Spotify, quando dou de caras com uma das minhas bandas preferidas, a quem eu tenho feito vista grossa nos últimos tempos — os Crowded House. Outrora os Crowded House serviam para me aquecer o coração, qual cobertor quentinho que se puxa quando acordamos a tremer de frio naquelas noites em que parece que vai estar calor, só que depois não.

Numa altura em que a banda de Neil Finn se prepara para regressar aos concertos com o pretexto de celebrar as reissues de toda a sua discografia, talvez seja a hora de voltar a pegar no meu cobertor neozelandês preferido.

Lembrei-me então de uma história cutchi-cutchi de um grande amigo com o hit "Weather With You". Há uns anos, ele tinha uma "love interest" americana de nome Heather; a páginas tantas, a Heather —apaixonada — enviou-lhe por correio uma foto em formato postal dos dois juntos num barco. Romântico? Esperem. Virando o postal, no verso podia ler-se:

"Everywhere you go, always take the Heather with you"



Awwwww.
E eu, que não conhecia, nem nunca cheguei a conhecer a Heather, fiquei fã dela imediatamente.

If only he did.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Oasis - "Columbia" (Live At Knebworth)

Nunca fui a Knebworth Park. Com muita pena minha, nunca tive oportunidade de ir ao local sagrado onde os Pink Floyd enterraram o "The Dark Side Of The Moon" em 1975, os Led Zeppelin enterraram os seventies em 1979 e os Queen se enterraram em 1986. Por alguma razão, Knebworth parece estar sempre associado a uma imagem bipolar de apogeu e fecho de ciclo.
Qual acaso profético, foi também o local escolhido pelos Oasis para celebrar o pináculo da Britpop, com um fim-de-semana de concertos esgotados em Agosto de 1996. Sem saberem, os Oasis estavam também a enterrar a Britpop. Mas já lá vamos.

E eis que ontem, num acaso não-sei-se profético, sem que eu soubesse ou esperasse, o Universo me fez cair nas mãos um bilhete para o evento mais importante dos anos 90:


Fuck me, por esta não estava à espera.

Knebworth Park, 11 de Agosto de 1996; Noel Gallagher entra no palco cheio de si, perfeitamente ciente que naquele momento morava no topo do mundo; e grita:
"THIS IS HISTERAY! THIS IS HISTERAY! Right here, right now, THIS IS HISTERAY!"


Ao seu lado, Liam podre de bêbedo, como sempre. Na sua cabeça, ele já morava no topo do mundo desde que cantava para dez bifes saídos das obras nos bares de Manchester "Tonaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa-ite I'm a Rock N' Roll staaaaaaaaaaaar". Knebworth Park era por isso somente o cumprimento do óbvio para Liam. "Hoje embebedo-me aqui, amanha embebedo-me na casa de uns mates", terá pensado, enquanto reclamava que a cerveja não estava suficientemente fresca.

Mas Noel sabia da efeméride que Knebworth encerrava. Depois de ditar que todos os que estavam ali, naquele momento, presenciavam História, Noel dá as boas vindas oficiais com um "Good evening planet Earth"... e arranca para um eufórico "Columbia", do álbum de estreia "Definitely Maybe". Ouçam os gritos de Noel, lá atrás nas backing vocals de "Yeah-yeah-yeah!!! Yeah! Yeah! YEAAAAAH!" e meçam por vocês, de zero a Knebworth, o quanto ele estava a flutuar acima do chão.

11 de Agosto de 1996 foi o clímax da bebedeira da Britpop. O problema é que nessa mesma semana, tinha saltado para o primeiro lugar das tabelas no UK e na Irlanda o tema "Wannabe", de umas tais Spice Girls, uma "banda" desconhecida que, mal sabiam Noel e os seus pares, iria mudar tudo. Depois vieram as Britneys e os Backstreets e nada nunca mais seria o mesmo. No dia da sua maior bebedeira, a Britpop começara o seu rápido declínio.


P.S.: Sim, a foto também mostra o último álbum do Noel autografado pelo próprio. Também me chegou às mãos por acaso. Mas não digam nada ao Noel que, até ver, ainda estamos zangados.

domingo, 18 de setembro de 2016

The Smiths - "Reel Around The Fountain"

"I dreamt about you last night and fell out of bed twice"


Sonho #2

Estou num hotel. Em Lisboa, acho. O Morrissey vem cá e eu vou vê-lo. Como estou num hotel, talvez já não more em Lisboa, não sei. Estou à porta do quarto, num piso muito alto, num corredor envidraçado com vista panorâmica sobre uma metrópole que não se parece nada com a Lisboa que eu conheçoMas sinto que é Lisboa.

Ela vem aí. Acabámos há já muito tempo, não sei precisar quanto, mas sinto que já se passaram vidas. Morri e renasci várias vezes desde a última vez que a vira. Vejo-a chegar pelo corredor envidraçado, está igual. Ela veste rosa, um sorriso aberto e uma cara de quem esperou uma eternidade por aquele momento.

Num volte-face aparentemente randómico, explode uma gritaria ao fundo do piso. Alguém grita "vem aí o Liam!". Oi? O Liam? O Gallagher? Deve ter vindo ver o Morrissey também. O piso é invadido por uma multidão histérica que rodeia um Gallagher mais baixo que o Liam. É o Noel! Alguém o agarra e PUM, o Noel acerta-lhe com um soco mesmo no centróide do nariz. A multidão dispersa e eu penso "foda-se, será que estou a sonhar?" (estava mesmo), mas vou lá na mesma. Grito "HEY NOEL", ao mesmo tempo que levanto o punho com cara cerrada, a fazer bingo com a fúria que ele vestia debaixo dos Ray-Ban. Noel deixa escapar um sorriso no fundo da boca e acerta-me afirmativamente, punho com punho. Fizemos finalmente as pazes.


Viro-me para trás e ela estava a sorrir. Sabia da importância daquele momento. Demos as mãos, sorrimos um para o outro e fomos ver o Morrissey. Just like in the beginning.

Acordo. São 6 da manhã. É o segundo bloco de duas horas que durmo hoje.