quinta-feira, 10 de julho de 2014

Richard Wright - "Mediterranean C"



Parece que é desta: o Verão está aí em força. Já não era sem tempo.
Como tal, hoje vou falar de um dos meus álbuns de Verão preferidos. O álbum dá pelo nome de "Wet Dream" e é o álbum de estreia de Richard Wright - esse mesmo, o teclista dos Pink Floyd.

Fazendo um trocadilho com a língua inglesa, diria que "Wet Dream" shows the Wright way; isto é, o álbum mostra a forma de fazer música segundo Richard Wright. Aqui não há espaço para poesia profunda e confessional, ou histórias de vida e de sofrimento. Pode-se dizer que é o antagonismo do que é a música, por exemplo, segundo Roger Waters. Pode-se dizer também que estes dois estilos são, no fundo, complementares; e que por isso é que a música dos Pink Floyd resulta tão bem. Mas isso é outra discussão.


"Wet Dream" é um álbum num registo mais Jazz-Rock, com forte carga instrumental: dos 10 temas, 6 são instrumentais e 4 têm (lindíssimas) faixas vocais de Rick. Aqui, tudo é melodia, tudo é ambiance, tudo nos sugere a calma e o azul do céu e o azul do mar (ui, daqui a pouco temos aqui o André Sardet).
"Wet Dream" é o típico álbum de música ambiente, que nos permite desligar o cérebro da música, concentrar a nossa atenção na paisagem (ou no meu caso - no trabalho) e desfrutar das pinturas melódicas que nos entram pelo ouvido.

É verdade: Richard vai cantando umas coisas de vez em quando e a sua voz soa lindamente. "I don't want to fight no more tonight.", suspira Wright em "Agaisnt The Odds" (não confundir com a balada de Phil Collins). Ok, é um tema que ele terá escrito quando estava chateado com a mulher, mas dificilmente se qualifica como poesia confessional como a que estamos habituados a ouvir com os Pink Floyd (escrita por Waters, naturalmente). Mas nada disso importa; na verdade, pouca é a atenção que damos ao que Richard canta. Imediatamente somos absorvidos pelos longos solos de guitarra, de saxofone, de teclado, ou de flauta. Como disse em cima, aqui, o ambiance é tudo.

A história de "Wet Dream" é simples e sem especial interesse. Depois da digressão de "Animals" (In The Flesh Tour de 1977) e dos seus percalços, os sumos criativos dos membros Pink Floyd estavam em alta. Enquanto Roger Waters pensava e criava o conceito do próximo álbum da banda ("The Wall"), David Gilmour concentrou-se no seu primeiro álbum a solo (o homónimo "David Gilmour" sairia em 1978) e poucos meses depois, Richard Wright lançaria também o seu primeiro trabalho em nome próprio - "Wet Dream".
O problema desta dispersão de atenções foi que (como o próprio Roger se queixou - e com razão), os sumos de David e Rick secaram e quando chegou a altura de gravarem "The Wall", era muito pouco o material que tinham para trazer para cima da mesa dos Pink Floyd. Mas isso é outra discussão ainda.

No fundo, "Wet Dream" foi um esforço solitário de Wright, que escreveu música e letra (quando aplicável) para todas as composições, menos para "Against The Odds", que escreveu em conjunto com (adivinhe-se) a sua mulher.
O álbum foi virtualmente ignorado na altura, não entrando sequer nas tabelas dos mais vendidos. Com o tempo, ganharia alguma reputação nos círculos dos fãs dos Pink Floyd, sendo hoje bastante difícil de encontrar (eu que o diga, que só tenho a versão em CD), uma vez que está há muito descontinuado.

Richard Wright tem estado na ordem do dia, devido ao novo álbum dos Pink Floyd que aí vem e que conta com as suas últimas gravações. Tal como "Wet Dream", espera-se que "The Endless River" tenha forte carga melódica e seja essencialmente instrumental. Assim, se queremos antecipar como poderá ser o álbum que nos chegará no final do ano, a melhor aposta deverá ser ouvir "Wet Dream" e este "Mediterranean C".

2 comentários:

Let the music do the talking.