segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Bruce Springsteen - "The Ties That Bind: The Story Of The River"

"Into the river we dive"




Na sequência do último post, em que dei conta da intenção de Bruce Springsteen de lançar uma edição de luxo alusiva a "The River", resolvi perder umas parcas 8 horas da minha vida (mais hora, menos hora) e ajudar Bruce na árdua tarefa de compilar uma caixa completa e satisfatória para os fãs.

Fica assim já feito o meu pedido para o Pai Natal, mesmo sabendo que ele só pode trazer para o ano.
Minhas Senhoras e Meus Senhores, mergulhem no rio comigo, num derradeiro olhar sobre "The River", com:

Bruce Springsteen - "The Ties That Bind: The Story Of The River" [5CD+4DVD] (2014) 


Discos 1 e 2 (2CD): "The River" (1983)
CD1 (LP 1 original):
1. "The Ties That Bind" (3:34)
2. "Sherry Darling" (4:03)
3. "Jackson Cage" (3:04)
4. "Two Hearts" (2:45)
5. "Independence Day" (4:50)
6. "Hungry Heart" (3:19)
7. "Out in the Street" (4:17)
8. "Crush on You" (3:10)
9. "You Can Look (But You Better Not Touch)" (2:37)
10. "I Wanna Marry You" (3:30)
11. "The River" (5:01)
CD2 (LP 2 original):
1. "Point Blank" (6:06)
2. "Cadillac Ranch" (3:03)
3. "I'm a Rocker" (3:36)
4. "Fade Away" (4:46)
5. "Stolen Car" (3:54)
6. "Ramrod" (4:05)
7. "The Price You Pay" (5:29)
8. "Drive All Night" (8:33)
9. "Wreck on the Highway" (3:54) 
Disco 3 (CD): "Deep Inside The River Vol. 1 - The River Tracks" (2014)
1. "Mary Lou" (3:24) - Gravado em 1979.05.30 - “Tracks”
2. "I Wanna Be With You" (3:25) - Gravado em 1979.05.31 - “Tracks”
3. "Bring On the Night" (2:42) - Gravado em 1979.06.13 - “Tracks”
4. "Ricky Wants a Man of Her Own" (2:49) - Gravado em 1979.07.16 - “Tracks”
5. "Dollhouse" (3:36) - Gravado em 1979.08.21 - “Tracks”
6. "From Small Things (Big Things One Day Come)" (2:42) - Gravado em 1979.09.02 - "The Essential"
7. "Where the Bands Are" (3:47) - Gravado em 1979.10.09 - “Tracks”
8. "Living on the Edge of the World" (4:21) - Gravado em 1979.12.07 - “Tracks”
9. "Take 'em as They Come" (4:32) - Gravado em 1980.04.10 - “Tracks”
10. "Restless Nights" (3:49) - Gravado em 1980.04.11 - “Tracks”
11. "Help Up Without A Gun (Live)" (1:21) - Gravado ao vivo em 1980.12.31 no Nassau Coliseum - "The Essential" 
Disco 4 (CD): "Deep Inside The River Vol. 2 - Loose Ends: The Ties That Bind Sessions" (2014)
1. "Roulette" (Rock Mix) (3:57) - Gravado 1979.04.03 - Lado B de "One Step Up"
2. "Point Blank" (Fast) (5:24) - Gravado em 1979.05.29-30 - Inédito
3. "Little White Lies" (2:42) - Gravado em 1979.06.01 - Inédito
4. "The Man Who Got Away" - Gravado em 1979.06.13 / 1979.07.05 - Inédito
5. "Night Fire" - Gravado em 1979.06.13 - Inédito
6. "Under The Gun" - Gravado em 1979.06.14 - Inédito
7. "Do You Want Me To Say Alright" - Gravado em 1979.06.14 - Inédito
8. "Stolen Car" (alternate lyrics) (4:48) - Gravado em 1979.06 - Inédito
9. "The Price You Pay" (additional verse) (5.54) - Gravado em 1979.06 - Previsto para “The Ties That Bind”
10. "Cindy" (2:18) - Gravado em 1979.07.16-17 - Previsto para “The Ties That Bind”
11. "Loose Ends" (4:05) - Gravado em 1979.07.18 - Previsto para “The Ties That Bind”
12. "To Be True" (3:43) - Gravado em 1979.07.21 - Previsto para “The Ties That Bind”
13. "You Can Look (But You Better Not Touch)" (Rockabilly)" (2:12) - Gravado em 1979.08.24-15 - Previsto para “The Ties That Bind” 
Disco 5 (CD): "Deep Inside The River Vol. 3 - Party Lights: The River Sessions" (2014)
1. "Party Lights" - Gravado em 1979.10.08 - Inédito
2. "Dedication" - Gravado em 1979.12.04/06 - Inédito
3. "A Thousand Tears (William Davis)" - Gravado em 1980.01.31-02.01 - Inédito
4. "Angelyne" - Gravado em 1980.02.01 - Inédito
5. "I Will Be The One" - Gravado em 1980.02.16/26 - Inédito
6. "Chain Lightning" - Gravado em 1980.01.17 - Inédito
7. "Help Up Without A Gun" (1:20) - Gravado em 1980.04 - Lado B de "Hungry Heart"
8. "Time That Never Was" - Gravado em 1980.04.16 - Inédito
9. "Down In White Town" - Gravado em 1980.04.16 - Inédito
10. "Your Love" - Gravado em 1980.07-08 durante as sessões com Gary US Bonds - Inédito
11. "This Little Girl" - Gravado em 1980.06-08 durante as sessões com Gary US Bonds - Inédito 
Disco 6 (DVD/Blu-Ray): "Nassau Year's Eve" (2014)
1980.12.31 Nassau Coliseum, Uniondale, NY, USA (audio)
1. "Night"
2. "Prove It All Night"
3. "Spirit In The Night"
4. "Darkness On The Edge Of Town"
5. "Independence Day"
6. "Who'll Stop The Rain"
7. "This Land Is Your Land"
8. "The Promised Land"
9. "Out In The Street"
10. "Racing In The Street"
11. "The River"
12. "Badlands"
13. "Thunder Road"
14. "Cadillac Ranch"
15. "Sherry Darling"
16. "Hungry Heart"
17. "Merry Christmas Baby"
18. "Fire"
19. "Candy's Room"
20. "Because The Night"
21. "4th Of July, Asbury Park (Sandy)"
22. "Rendezvous"
23. "Fade Away"
24. "The Price You Pay"
25. "Wreck On The Highway"
26. "Two Hearts"
27. "Ramrod"
28. "You Can Look (But You Better Not Touch)"
29. "Held Up Without A Gun"
30. "In The Midnight Hour"
31. "Rosalita (Come Out Tonight)"
32. "Santa Claus Is Coming To Town"
33. "Jungleland"
34. "Born To Run"
35. "Detroit Medley"
36. "I Hear A Train"
37. "Twist And Shout"
38. "Raise Your Hand"
Disco 7 (DVD/Blu-Ray): "Into The River We Dive - The River Live '09" (2014)
2009.11.08 Madison Square Garden, New York, NY, USA (audio)
1. "Wrecking Ball" (com Curt Ramm)
2. "The Ties That Bind"
3. "Sherry Darling"
4. "Jackson Cage"
5. "Two Hearts" / "It Takes Two"
6. "Independence Day"
7. "Hungry Heart"
8. "Out In The Street"
9. "Crush On You"
10. "You Can Look (But You Better Not Touch)"
11. "I Wanna Marry You"
12. "The River"
13. "Point Blank"
14. "Cadillac Ranch"
15. "I'm A Rocker" (com Curt Ramm)
16. "Fade Away"
17. "Stolen Car"
18. "Ramrod"
19. "The Price You Pay"
20. "Drive All Night"
21. "Wreck On The Highway"
22. "Waitin' On A Sunny Day"
23. "Atlantic City"
24. "Badlands"
25. "Born To Run"
26. "Seven Nights To Rock"
27. "Sweet Soul Music "(com Curt Ramm)
28. "No Surrender"
29. "American Land" (com Curt Ramm)
30. "Dancing In The Dark"
31. "Can't Help Falling In Love"
32. "(Your Love Keeps Lifting Me) Higher And Higher" 
Disco 8 (DVD/Blu-Ray): "Thrill Hill Vault - The River Video Extras" (2014)
"No Nukes concert" - 1979.09.21/22 Madison Square Garden, New York, NY, USA
1. "The River"
2. "Thunder Road"
3. "Quarter To Three"
"The River Tour rehearsals" - 1980.09 Claire Brothers Audio, Lititz, PA, USA (Parte 1, Parte 2, Parte 3)
1. "Born To Run"
2. "Prove It All Night"
3. "Tenth Avenue Freeze-Out"
4. "Out in the Street"
5. "The River"
6. "Darkness on the Edge of Town"
7. "Wreck on the Highway"
8. "The Ties That Bind"
9. "The Promised Land"
10. "Thunder Road"
11. "Racing in the Street"
12. "Cadillac Ranch"
13. "Fire"
"Survival Sunday concert" - 1981.06.14 Hollywood Bowl, Los Angeles, CA, USA
1. "This Land Is Your Land"
2. "The Promised Land" (com Jackson Browne)
3. "Jole Blon" (com Gary US Bonds)
4. "Hungry Heart"
5. "Brother John Is Gone" (com todos os artistas)

Disco 9 (DVD/Blu-Ray): "The Ties That Bind: The Story Of The River" (2014)
Documentário

São assim um total de 9 discos - 5 de áudio e 4 de vídeo - que podem mostrar finalmente a verdadeira dimensão do material que Bruce acumulou, nos 2 anos de gravações contínuas (1979 e 1980) que culminaram em "The River".
Na parte áudio, a juntar ao álbum duplo remasterizado, estão 3 discos de temas finalizados, que não couberam no álbum. Exacto. Ao contrário do que aconteceu com as faixas gravadas nas sessões de "Darkness On The Edge Of Town" (muitas delas tiveram que ser completadas para a sua inclusão em "The Promise"), todos os temas que estão nos discos 3, 4 e 5 (que baptizei de "Deep Inside The River") foram gravados nos estúdios The Power Station e estão terminados, ou em estado final de acabamento.

O Disco 3 ("Deep Inside The River Vol. 1 - The River Tracks") é uma espécie de "revisão da matéria dada", compilando os temas que já foram lançados das sessões de gravação de "The River" e que já são conhecidos na sua "versão definitiva". Estes temas apareceram na caixa "Tracks", de 1998 e na compilação "The Essential", de 2003.

O Disco 4 ("Deep Inside The River Vol. 2 - Loose Ends: The Ties That Bind Sessions") refere-se à 1ª fase de sessões de gravação, que decorreu entre Março e Setembro de 1979 e que produziram o álbum "The Ties That Bind". A 21 e 22 de Setembro, Bruce Springsteen deu 2 concertos com a E Street Band no Madison Square Garden, para apoiar os Musicians United for Safe Energy (mais conhecido por No Nukes) e por alguma razão, mudou de ideias. O álbum foi cancelado e a banda voltaria a estúdio para mais um ano de gravações.
A 2ª metade deste disco é composta, na prática, pelas faixas que não puderam ver a luz do dia em 1979.  Elas estão disponíveis em qualidade imaculada (basta carregar nos links para ouvir) e muitas delas representam as "versões definitivas"destes temas.
Pela quantidade de posts que já escrevi sobre a temática, é fácil perceber que o álbum "The Ties That Bind" tem reservado um cantinho no coração muito especial para mim.

O Disco 5 ("Deep Inside The River Vol. 3 - Party Lights: The River Sessions") refere-se à 2ª fase de sessões de gravação, que decorreu entre Outubro de 1979 e Maio de 1980 e que resultaram em "The River".  A maior parte destes temas são inéditos e desconhecidos do público, embora se saiba da sua existência pelos registos presentes nos estúdios The Power Station.

O Disco 6 ("Nassau Year's Eve") é um dos principais atractivos da caixa: um concerto completo em vídeo, da The River Tour. Para aqui escolhi a lendária noite de fim de ano (1980.12.31), ao vivo no Nassau Colisseum, onde Bruce tocou 38 (!!!) temas, num dos concertos mais longos de sempre. O áudio (pelo menos) foi gravado profissionalmente para o lançamento de um álbum ao vivo, sendo que alguns dos temas foram incluídos mais tarde na caixa "Live/1975-85" e outros apareceram noutras compilações. Se não houver vídeo desta noite e não for pedir muito, podem incluir o concerto de fim de ano nos discos 10, 11 e 12.
O único vídeo filmado profissionalmente que se conhece é de 1980.11.24 (Capital Centre, Landover, MD, USA), embora o áudio seja gravado na audiência e por isso de fraca qualidade. Espero uma agrádavel surpresa de Bruce neste capítulo.

O Disco 7 ("Into The River We Dive - The River Live '09") documenta a noite em que Bruce Springsteen tocou - pela primeira e única vez - o álbum "The River" completo e na sequência original, no Madison Square Garden, em 2009. Vale mais como registo histórico, do que outra coisa. Seria seguramente o item menos interessante da caixa.

O Disco 8 ("Thrill Hill Vault - The River Video Extras") resgata todo o vídeo "avulso" que Bruce tenha nos seus cofres. Está aqui o que sabe que existe do concerto de "No Nukes" (embora mais possa existir, quem sabe...), a sua aparição no Hollywood Bowl, para o concerto de beneficência Survival Sunday e ainda a filmagem dos ensaios para a The River Tour. Espero que Bruce nos reserve algumas surpresas para aqui também.

O Disco 9 ("The Ties That Bind: The Story Of The River") é o documentário, à imagem do que já tivemos com "Wings For Wheels" e "The Promise". Que Bruce nos conte a História, pelas suas palavras, de "The River".

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Bruce Springsteen - "The Ties That Bind"

"Now you can't break the ties that bind"



A Rolling Stone anda em polvorosa com a notícia do novo álbum de Bruce Springsteen - o seu artista fétiche. Eu sei que é irónico que eu me refira nestes termos à Rolling Stone, quando mais de 10% dos posts deste blog são dedicados a Bruce Springsteen; mas estamos a falar da malta que deu 5 estrelas a "Working On A Dream", num texto cheio de superlativos que compara o álbum a "Born To Run" e o classifica como o "mais rico da década". Ora, "Working On A Dream" é para mim (e, atrevo-me a dizer, para a maioria dos fãs) o mais fraco de todos os álbuns de Bruce com a E Street Band. Quando posto ao lado de "The Rising", ou mesmo de "Magic", "Dream" só pode corar de vergonha. Na minha opinião, é o álbum que (infelizmente) marca o declínio criativo de Bruce, que continuou com "Wrecking Ball" e se deverá prorrogar no próximo "High Hopes", a ser lançado em Janeiro (e que levará 4 1/2 estrelas da RS).
Mas voltarei a esse assunto mais tarde.

O que mais interessa nesta onda de entusiasmo da Rolling Stone, é que (para um dos artigos) entrevistaram Jon Landau - o manager de Bruce. E ele, talvez sem querer, desvendou o que aí vem para o que nesta altura realmente importa: o colossal filão de material que Bruce Springsteen tem guardado nos seus cofres. Neste artigo, Jon Landau faz a revelação:
"This year also marks the 30th anniversary of Springsteen’s smash Born in the U.S.A., but his manager, Jon Landau, says there are no plans to celebrate that with a deluxe reissue – at least not yet. "There's ongoing work on a River box set," says Landau. "Maybe we’ll do that first".

Ou seja, depois de "Darkness On The Edge Of Town", segue-se "The River" como objecto de um tratamento exaustivo para uma edição de luxo. Esta é a melhor notícia relacionada com Bruce Springsteen, desde que há exactamente 2 anos anunciou o concerto em Lisboa.

Recordo que em 2010, Bruce mostrou ao Mundo como é que se faz uma edição de luxo e lançou "The Promise: The Darkness on the Edge of Town Story" - um set composto por 3CD + 3Blu-Ray, que parou em (quase) todos os apeadeiros.
A caixa de "Darkness" é para mim um dos maiores (o maior?) triunfos artísticos de TODA a carreira do Bruce. A quantidade (e qualidade) do material audio e vídeo ali presentes são a prova da força e criatividade no pico da sua carreira.
Só faltou mesmo um álbum ao vivo, de preferência com o concerto de Passaic, em 1978/09/19, que é "só" uma das minhas performances ao vivo preferidas de sempre. Mas já estou a divagar.
Com a caixa de "Darkness", Bruce elevou a fasquia de tal forma, que será difícil competir com isso no álbum "The River".

Interessa agora pensar e cogitar o que nos espera nesta edição expandida do "The River". Com base no que tivemos em "Darkness", façamos então esse exercício:

- Álbum "The River" remasterizado:
Já não era sem tempo. A discografia do Bruce deixa bastante a desejar ao nível sónico, mas "The River" é de longe o pior exemplo.
Para além de parecer que é a música é transmitida em ondas AM, há um desequilíbrio de equalização que não se compreende. Talvez se deva ao facto do álbum ter sido gravado em 2 fases e de parte dos temas ter sido terminado e masterizado para o cancelado "The Ties That Bind", mas isso teria que ser corrigido na masterização da 2ª leva de temas. O álbum soa a uma compilação e isso é estranho.

- Documentário:
Se fizerem outro documentário para contar a história do álbum, já não vai poder contar com as imagens de estúdio, como tivemos no "The Promise". Infelizmente, o Bruce e o Steven disseram que essas filmagens só foram feitas na gravação do "Darkness".
Mesmo assim, se intercalarem as novas entrevistas com imagens de arquivo de concertos, penso que dá para fazer algo de muito bom.

- Concerto em vídeo:
É a "centerpiece" da caixa para a maioria dos fãs (eu incluído). Esta era a grande dúvida na caixa de "Darkness" e na altura falava-se dos vídeos de concertos que se conheciam (Roxy, Passaic, Phoenix), mas acabou por calhar Houston, que ninguém tinha ouvido falar. Foi uma agradável surpresa.
Na "The River Tour", o único concerto completo, filmado profissionalmente, que eu conheço é o de Landover em 1980.11.24. É este que tem maior probabilidade de calhar na caixa, mas quem sabe, que surpresas o Bruce tem reservadas no Thrill Hill? Como disse, prefiro algo de completamente novo e surpreendente.

- Extras vídeo:
Deve haver "n" filmagens avulsas nesta digressão - uma música aqui, outra ali - que devem facilmente fazer um DVD/BD de bónus. Imediatamente à cabeça vem-me os concertos de beneficência no Hollywood Bowl e no MSG (o tal que fez o Bruce mudar de ideias e cancelar o "The Ties That Bind"), todos filmados profissionalmente.

- Outtakes / Faixas que ficaram de fora do álbum:
Ui... Aqui de certeza que não haverá falta de material. "Darkness On The Edge Of Town" deu origem a um álbum duplo de outtakes ("The Promise") e este pode facilmente dar origem a outro. Já houve vários temas que foram parar ao "Tracks", mas há muito, muito, MUITO material que sobra.
Com a ajuda do Brucebase (a minha bíblia das sessões de gravação de Bruce Springsteen), reuni imediatamente 30 (!!!) temas que poderiam figurar aqui:
“Held Up Without A Gun”
“Cindy”
“Little White Lies”
“Janey Needs A Shooter”
“The Man Who Got Away”
“Chain Lightning”
“Find It Where You Can”
“Break My Heart”
“Out On The Run (Looking For Love) ”
“Love And Kisses”
“Night Fire”
“In The City Tonight”
“Under The Gun”
“I Don’t Wanna Be”
“Chevrolet Deluxe”
“Slow Fade”
“Jole Blon”
“Party Lights”
“Do You Want Me To Say Alright”
“Time That Never Was”
“Down In White Town”
“Angelyne”
“A Thousand Tears (William Davis)”
“I Will Be The One”
“Stray Bullet”
“Tonight”
“I’m Gonna Treat You Right”
“Dedication”
“Your Love”
“This Little Girl”

O nome da caixa? Obviamente:

"The Ties That Bind: The Story Of The River"



Digam lá se não soa maravilhosamente bem? E ainda se prestaria a devida homenagem ao álbum que nunca viu a luz do dia em 1979. Venha de lá essa caixa!


P.S.: Jon Landau não se ficou por aqui no campo das revelações:
"And we're doing some remastering work on his first two albums [1973's Greetings From Asbury Park, N.J. and The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle] as we speak. Those will be forthcoming.""
Ou seja, temos à nossa espera novas remasterizações para "Greetings From Asbury Park, N.J. e "The Wild, The Innocent & The E Street Shuffle", abrindo a esperança para a abertura do gigantesco cofre de temas dos primeiros anos de carreira de Bruce. Sweet.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Arcade Fire - "Reflektor"

"It’s just a reflection of a reflection, of a reflection of a reflection."



E eis que após 3 meses de ausência (interrompidos apenas por Lou Reed), regresso hoje às lides do blog. Muito haveria para contar, mas o tempo é curto e a escrita preciosa.
Como tal, que melhor maneira de dar o pontapé de saída para o final de 2013 (que terá a inevitável revisão anual da matéria dada), que o álbum por que todos esperaram este ano? O álbum que foi feito em 2013 e que "fez" 2013? O álbum que epitomiza toda a cultura alternativa, exclusiva (cough... hipster), pseudo-intelectual, lustroso-por-fora/vazio-por-dentro dos anos 10's?
Falo, obviamente, de "Reflektor" - o 4º álbum de estúdio dos Arcade Fire.


Antes de mais, vou directamente à minha opinião sobre o álbum: "Reflektor" é um rochedo; um rochedo dançável. É um álbum duplo, com 13 temas e 75 minutos, fácil de degustar, mas difícil de digerir. É um álbum variado no estilo, rico nos ambientes, polido na produção.

Não era fácil suceder ao premiado "The Suburbs" (Grammy 2011), mas os Arcade Fire inspiraram-se nas memórias de acesso aleatório vindas de França e jogaram a sua sorte com um álbum que ambiciona conquistar as pistas de dança e manter a rodagem nos círculos alternativos.

Por outro lado, "Reflektor" é um álbum que vem carimbado com o selo da ironia, do sarcasmo, do cinismo e de todas as outras formas de retórica que devem masturbar a mente do mais orgulhoso hipster.

E é aqui que entramos na discussão que eu apimentei em cima. Já aqui falei dos hipsters e na acefalia da cultura da exclusividade. Note-se que os Arcade Fire não são impulsionares deste lustroso-por-fora/vazio-por-dentro característico desta década; mas no final de contas, são os hipsters o público-base da banda.
Era complicado aos Arcade Fire jogar com isto, mas eles fizeram-no e com mestria.

"Reflektor" é, acima de tudo, um álbum muito inteligente. Inteligente na forma e inteligente no conteúdo.
É inteligente no conteúdo porque é bom; aborda vários estilos (sem ser propriamente "inventivo") e arrisca, ainda que calculadamente, numa nova sonoridade.
É inteligente na forma, porque dispara em todas as direcções.
Com "Reflektor", os Arcade Fire querem fazer um disco maior que a banda, maior que a vida, maior que o Mundo; muito maior que o selo de Indie Rock hipster com o qual andam colados.
Mas por outro lado, os AF querem esse selo. Eles sabem que a sua base de fãs - sim, falo dos hipsters - querem ainda usufruir do prestígio da exclusividade, querem sentir-se especiais. Então os AF tentam ser irónicos, de modo a passar a mensagem: "Embora nos tenhas que partilhar com muitos outros, este álbum é para ti. Só tu é que nos entendes."

Diz a Pitchfork (publicação sempre simpática para com os AF) acerca de "Reflektor", enquanto invoca nomes de álbuns como "Low" (Bowie), "Exile on Main Street" (Stones), "The White Album" (Beatles), ou "Achtung Baby" (U2):
"The only way to make a Big Rock Record in 2013 is to make one that is skeptical of what it means to be a Big Rock Record in 2013."

Ah, pois, a ironia. 

"Reflektor", de irónico, tem muito pouco. Senão vejamos: "Reflektor" é um álbum Disco, num ano em que o Disco voltou; é um álbum grande (duplo), quando pretende ser um grande álbum; é um álbum que pretende lançar os AF aos grandes palcos e que lança os AF aos grandes palcos.
Os AF auto-proclamam-se irónicos, mas depois param em todos os apeadeiros do mainstream.
Eles vão "só" encabeçar o cartaz do Rock In Rio, ao lado de nomes como Justin Timberlake e Robbie Williams.

Ironia? BULLSHIT

O Noel Gallagher é que lhes tirou a pinta. (Leiam esta entrevista à Rolling Stone, onde Noel faz uma revisão de 2013, que é a melhor que eu já li nos últimos anos. A sério, pela vossa vida, leiam a entrevista!)

RS: Did you see that they've asked people to wear formal wear or costumes at their shows?[Arcade Fire has clarified that this dress code is "super not mandatory."]
Noel: [Sighs] Well, what's the point of that? Do you know what the point of that is? That is to take away from the shit disco that's coming out of the speakers. Because everybody's dressed as one of the Three Musketeers on acid. "What was the gig like?" "I don't know, everyone was dressed as a teddy bear in the Seventies." "Yeah, but what was the gig like?" "Ah, fuck knows, man, I have no idea. I was dressed as a flying saucer." "Yeah, but what was the gig like?" "Fuck knows. I don't know. Seen Cheech and Chong, there, though." Not for me.

A sério, que raio de ideia foi aquela de imporem um "dress code" nos concertos? Quem é que foi o idiota que se lembrou disto?
Não sei, mas foi um idiota... muito inteligente. Com este pedido bizarro (que depois foi moderado), os Arcade Fire mostram ao que vêm e a quem querem agradar - sim, falo dos hipsters. Colocam cá fora um disco (pun intended) para ser consumido pelo quasi-mainstream (não exageremos, também não são a Rihanna), mas querem seleccionar o público que aparece nos concertos e, mais importante que isso, querem perpetuar a imagem de banda alternativa. Querem vender tanto como os U2, mas manter a aura de reclusos da indústria.

"Reflektor" é reluzente (basta olhar para a capa) e pretensioso e ainda bem. Nada contra tenho contra o pretensiosismo na música, ou não fosse eu fã de Rock Progressivo, ou de Glam Rock.
Com este álbum, os Arcade Fire querem o bolo de noiva e querem os cupcakes; querem tudo. E têm todo o direito de o fazer; são precisas mais bandas que reclamem o ceptro da indústria musical.
Mas não me venham com balões e confettis de ironia, apoiados em loas da Pitchfork e da restante comunidade hipster.
"Reflektor" é uma declaração de take over dos Arcade Fire, uma OPA hostil do panorama musical.

Ironia, my ass. Irónico é o facto de eu estar a condenar a bajulação da crítica para com "Reflektor", quando todo este blog é um exercício de bajulação a música. Isso sim, é ironia.


domingo, 27 de outubro de 2013

Lou Reed - "Metal Machine Music"

Antes de mais, assinalo que não sou fã de Lou Reed, nem nunca tive curiosidade de mergulhar mais profundamente na sua obra.
Dito isto, sempre admirei Lou Reed por ser um artista na mais ampla asserção da palavra, por ter vivido a sua arte com uma honestidade e pureza que são muito raras na música popular.
Ou era à maneira de Lou, ou então não era de maneira nenhuma. Os outros que se f**essem.



Em 1975, Lou estava no pico comercial da sua carreira, depois de 3 álbuns sucessivamente mais bem sucedidos ("Transfomer", "Berlin" e "Sally Can't Dance") e vivia debaixo de uma grande pressão por parte da editora, para lançar um novo trabalho à altura.
O que é que Lou fez? O maior pirete à "indústria" na História da música: lançou o infame "Metal Machine Music" - um álbum duplo, que consistia unicamente de 4 lados de feedback.



Em 2011, todos esperariam que Lou vivesse apenas das glórias do passado, reciclando o seu material em compilações, ou em digressões nostálgicas.
O que é que Lou fez? Voltou a molhar a sopa: chamou os Metallica e gravou um dos álbuns mais criticamente trucidados da História - "Lulu" - uma mistura de Thrash Metal, com textos declamados por Lou Reed (frequentemente fora do tempo da música).
"Lulu" foi de tal forma pulverizado, que provocou comentários em como era pior ainda que "Metal Machine Music".



Com Lou Reed, sempre se podia esperar o inesperado.
Ou era à maneira de Lou, ou então não era de maneira nenhuma. Os outros que se f**essem.

RIP Lou Reed (1942-2013) - Um dos grandes.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Supertramp - "School"

"I can see you in the morning when you go to school"



Foi na 6ª feira passada - já faz quase uma semana - mas ainda não me saiu da cabeça o concerto de Roger Hodgson no Hipódromo de Cascais.

Para quem o nome é estranho, Roger Hodgson foi um dos elementos fundamentais dos Supertramp, durante os seus anos dourados, entre 1974 e 1983. Roger e Rick Davies formaram uma parceria de compositores (ala Lennon-McCartney ou Jagger-Richards) que deu à banda 3 álbuns de luxo ("Crime Of The Century", "Even In The Quietest Moments..." e "Breakfast In America") e uma série de êxitos que levaram os Supertramp a um sucesso estratosférico em 1979, fazendo de "Breakfast In America" o álbum mais vendido do Mundo naquele ano.

Mais do que o sucesso, o que fica do legado de Roger Hodgson e Rick Davies é uma sonoridade única, inconfundível, nos álbuns clássicos dos Supertramp. A harmónica, o piano eléctrico Wurlitzer, bem como a restante bateria de instrumentos de teclas e todos os outros subtis adornos da paisagem sonora que os Supertramp tão bem sabiam utilizar. À custa desta identidade sonora muito própria, ao ouvirmos um qualquer trecho de um álbum dos Supertramp entre 1974 e 1983, imediatamente reconhecemos quem está a tocar.

"It's always up to you if you want to be that, want to see that way"

Como em quase todas as parcerias de sucesso na música (tirando Elton John/Bernie Taupin, não me lembro de outra que tenha prevalecido no tempo), Roger e Rick viraram costas um ao outro em 1983 e seguiram caminhos separados. Roger aventurou-se a solo e Rick continuou com os Supertramp.
Em 2010, tive a oportunidade de ver os Supertramp no Pavilhão Atlântico, na sua digressão de reunião "'70-10", que comemorava os 40 anos da banda. Reunião, mais ou menos, uma vez que um dos membros-chave - Roger Hodgson - não estava presente. O concerto foi muito bom, muito polido e profissional.
Foi bom, mas foi "só" isso, não andei com aquela noite a ressoar na minha cabeça durante uma semana.

Com Roger Hodgson foi bem diferente, incrível. Incrível, mesmo.
A noite foi memorável; já tinha começado da melhor maneira com os Level 42 e o slapping bass de Mark King - um baixista dotado de uma técnica ímpar.
Mas o melhor veio depois. Apresentando uma setlist com 90% de material dos Supertramp, o concerto de Roger Hodgson foi tão bom, tão belo, tão harmonioso, que em partes chegava a doer, de tão bom que estava a ser. Partes houve, em que a linha que separa o deleite do sofrimento ficava esbatida, com a ultra-estimulação dos sentidos. O concerto valeu-me uns quantos arrepios na espinha.

Enquanto eu ia cuspindo umas interjeições do tipo "Brutal!", ou "Espectáculo!", nos intervalos entre temas, ou entre secções da mesma música (não esquecer que os Supertramp fizeram muito Rock Progressivo), o amigo que me acompanhava estava sem palavras, limitava-se a sorrir. Esse amigo é de uma geração à frente da minha, com poucos anos de diferença do meu Pai, é alguém que viveu os Supertramp in loco. Ele nada dizia, trazia apenas consigo um sorriso aberto, inocente, idiota, qual miúdo de 10 anos a abrir os presentes na noite de Consoada.

Quanto a mim, o efeito do concerto de 6ª feira foi tal que, desde então, ainda não consegui parar de ouvir Supertramp.
Para celebrar esta semana inundada de Supertramp deixo aqui "School", tema que Roger Hodgson foi buscar logo no início do concerto. "School" abriu o álbum "Crime Of The Century" de 1974, com aquela inconfundível harmónica e à semelhança do tema-título "Crime of the Century" foi uma composição de facto conjunta de Roger e Rick.



A poucos dias de embarcar para Londres, para aquele que espero que seja um dos concertos do ano - Roger Waters ao vivo no Estádio do Wembley, com o álbum "The Wall" - outro Roger já elevou a fasquia, e de que maneira.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

John Lennon - "Mother"

"MAMA DON'T GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! DADDY COME HOME!"


"Mother you had me, but I never had you"

A infância de John Lennon foi particularmente atribulada.
John nasceu em Liverpool, onde viveu os primeiros anos de vida com a sua mãe - Julia (do tema "Julia" do White Album) - e com um pai ausente, que se limitava a enviar os cheques da renda para casa. Aos 3 anos, os cheques deixaram de chegar à caixa de correio e o pai - Alfred - desapareceu sem deixar rasto durante 6 meses. Quando voltou, Julia já tinha engravidado de outro homem e recusou o regresso de Alfred a casa.

"I wanted you, you didn't want me"

Atenta ao ambiente tormentoso onde o pequeno John estava inserido (o rapaz dormia na mesma cama que a mãe e o padrasto), a sua tia Mimi (irmã de Julia) fez queixa aos serviços sociais de Liverpool e assim Julia deu a custódia de John à irmã.
Quando Lennon tinha apenas 5 anos, o seu pai tentou raptá-lo para a Nova Zelândia, mas Julia seguiu-os e obrigou o menino a escolher entre os dois pais. John escolheu o seu pai, mas desatou a chorar quando viu a mãe ir-se embora. O pai desapareceu de vez e John não voltaria a vê-lo até fazer 25 anos.

"Father you left me, but I never left you"

O pequeno John acabaria por voltar à sua tia Mimi, com quem passou o resto da sua infância e adolescência. Durante este tempo, a mãe visitava-o frequentemente. Foi Julia quem lhe incutiu o gosto pelo Rock, dando-lhe a ouvir os discos de Elvis e oferecendo-lhe uma guitarra que logo captou a atenção de John, contra a vontade da tia, que queria que ele se concentrasse nos estudos.
Um dia, tinha John 17 anos, Julia foi visitar a irmã Mimi, mas John não estava em casa. No caminho de volta para a paragem de autocarro, a mãe de John foi atropelada por um carro conduzido por um polícia e morreu.

"I needed you, you didn't need me"

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Como seria de esperar, toda a turbulência na infância de John marcou-o indelevelmente até ao final da sua vida e reflectiu-se, naturalmente, na sua carreira.
O trabalho onde os dramas de criança de John ficaram mais vincados foi "John Lennon / Plastic Ono Band" - o 1º álbum a solo de John Lennon a sério, gravado em conjunto e com a mesma banda, que o álbum Avant-Garde (como não poderia deixar de ser...) "Yoko Ono / Plastic Ono Band".
Por consideração ao John, não vou contar com os álbuns "experimentais" com a Yoko - "Two Virgins" (o álbum onde John e Yoko apareceram na capa em nudez frontal), "Life With Lions" e "Wedding Album" - os dois primeiros justamente acompanhados pelos prefixos "Unfinished Music No. 1" e "Unfinished Music No. 2", respectivamente.
A primeira vez que Lennon levou a sua arte a sério foi em 1970, com "John Lennon / Plastic Ono Band". E se levou a sério...


Nesta altura, John ainda apanhava os cacos da queda dos The Beatles pelas escadas abaixo, qual Álvaro de Campos em "Apontamento". Mas resolveu fazê-lo de uma forma muito mais ampla, lidando com todos os problemas que o atormentaram ao longo da sua vida.
Está tudo aqui, em "John Lennon / Plastic Ono Band": a perda da mãe e do pai, em "Mother" e "My Mummy's Dead"; a perda de fé em Deus e em todas as referências, em "God"; o amor, em "Love"; a descrença na sociedade, em "Working Class Hero"; o isolamento, em "Isolation".

O álbum é Lennon no seu âmago mais profundo. Neste disco, Lennon arranca o seu coração do peito, com as próprias mãos e a sangue frio e espeta-o de cima da mesa.
O motor da resolução destes conflitos internos foi a terapia primal de Arthur Janov, cujo livro "The Primal Scream" incitava o leitor a expressar, sentir, e relembrar as dores outrora reprimidas. Já aqui falei da terapia primal, a qual uns anos mais tarde inspiraria 2 rapazes a formar os Tears For Fears e a gravar o seu álbum de estreia "The Hurting".

O grito de Lennon no fim do tema, ao chamar pela mãe e pelo pai, é o melhor exemplo de grito primal que alguma vez ouvirão. E como sempre acontece com John, mesmo a gritar, sai música.

"MAMA DON'T GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! DADDY COME HOME!"

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Não sei, nem quero saber, o que seria perder a minha Mãe, ou o meu Pai. Muito menos ambos. Felizmente, não tenho essa noção.
Eles são tudo para mim: se eu sou quem sou hoje, se atingi aquilo que atingi, tudo lhes devo, a eles. São as pessoas que eu mais amo no Mundo.

A minha Mãe é, seguramente, pelo lado dela, a pessoa que mais me ama no Mundo.
É um amor visível nos seus olhos, quando eu regresso a casa, após um mês sem me ver.
É um amor audível nas suas palavras, todos os dias, quando eu atendo o telefone, respondendo a uma das suas 20 chamadas diárias. (Desculpa não as atender todas, Mãe, mas eu também tenho uma vida)
É um amor que se sente, a cada sacrifício que eu a vejo fazer por mim.
É um amor quase palpável. É um amor tão forte, tão sólido, tão denso, que por vezes quase o consigo agarrar nas minhas mãos.

O meu Pai é o meu radar, o meu farol, o meu barómetro.
Foi por ele que eu sempre me guiei, foi ele que eu sempre quis imitar.
É ele o meu exemplo de homem, o meu role model.
aqui tinha falado dele.

Amo-vos. Obrigado por estarem sempre comigo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

George Harrison - "What Is Life"

"Tell me, what is my life without your love?"



"The album grabs you up by the neck and holds you in a cathartic state for such a long time that it really wears you down - this is not listening for relaxation, this is listening for purification, plain and simple.
80 minutes worth of musical orgasm."

Já o referi diversas vezes: não ligo muito a críticos musicais. Pelo menos não os tenho como oráculos do que é bom ou não, ou do que devo ou não devo ouvir. Contudo, gosto de ler algumas opiniões, principalmente daqueles que têm ideias fortes e vincadas (como eu) e verificar se a minha opinião coincide com a deles. Quando isso acontece, acho engraçado; quando não acontece, é-me igual, por vezes até me rio com a disparidade de visões.

Vezes outras existem, que lemos uma opinião que espelha na totalidade o que pensamos e o que sentimos acerca de um determinado assunto. A citação que coloquei em cima é de George Starostin, um crítico musical que "leio" há mais de 10 anos e uma das inspirações para escrever este blog. Inspiração da ideia, note-se. Sou obrigado a sublinhar que Starostin abomina os Queen, pelo que discordo em larga escala de algumas das suas opiniões, mas não deixam de me entreter.
No caso de "All Things Must Pass", estamos em sintonia.



Ontem falei aqui acerca do White Album ("The Beatles"), de como este álbum era "o castelo de pedra, em cima do monte majestoso que é a discografia" dos The Beatles. Verdade. Mas... e se eu disser que a nível de majestuosidade, de imponência, nada, NADA mesmo, chega a "All Things Must Pass"?
Se a palavra-chave do White Album era diversidade, em "All Things Must Pass", a palavra-chave é majestuosidade. (partindo do princípio que a palavra existe mesmo)
Se o White Album é um castelo, então o álbum de estreia de George Harrison é uma catedral, imponente e majestosa; uma obra épica, de uma grandiosidade que nos esmaga os sentidos e ao mesmo tempo os acolhe.
Como diz Starostin, é um álbum que nos "agarra pelo pescoço" e nos "deixa num estado catártico durante tanto tempo, que chegamos ao fim cansados". E acrescenta:"Isto não é ouvir para relaxamento, isto é ouvir para purificação, pura e simples."

Eu sei, já me estou a exceder outra vez. É o costume: quando falamos de "All Things Must Pass", desdobro-me no uso dos superlativos, ainda mais do que o habitual.
"All Things Must Pass" é de longe o álbum que mais ouvi nos últimos 2 anos. Curiosamente, essa relação de quasi-dependência da obra-prima de George Harrison começou em Londres, numa viagem que fiz por esta altura, há sensivelmente 2 anos.
Volvidos 2 anos, numa altura em que regresso a Londres, com a possibilidade de ficar, "All Things Must Pass" também regressou à minha playlist. Desta feita, principalmente pela mão de "What Is Life", o tema mais optimista do magnum opus de George Harrison. Tempos felizes.


domingo, 1 de setembro de 2013

The Beatles - "Back In U.S.S.R."

"You don't know how lucky you are, boy"




Esqueçam as compilações com os maiores êxitos, esqueçam as colectâneas, esqueçam o Álbum Vermelho ("1962-1966"), esqueçam o Álbum Azul ("1967-1970"). Se quiserem saber porque os The Beatles foram mesmo importantes, então o que querem ouvir é o Álbum Branco ("The Beatles").

"The Beatles" é um monumento. É o castelo de pedra, em cima do monte majestoso que é a discografia da banda. É um castelo construído em pedra maciça, pesada. As pedras são as canções, 30 no total. 30 temas que mostram o bom, o mau e o feio dos The Beatles.
As compilações podem mostrar porque os Beatles foram grandes, mas não mostram o porquê de terem sido os mais importantes.



O álbum homónimo dos The Beatles é vulgarmente conhecido como White Album ou, em português, o Álbum Branco. É um álbum duplo, lançado em 1968 e que não inclui muitos mega-êxitos; esses foram, propositadamente, deixados de fora do álbum - falo de "Hey Jude" e "Revolution" (a versão pesada do tema).
Curiosamente, o grande êxito que foi, de facto, incluído no álbum, é um dos temas mais fracos do lote: "Ob-La-Di Ob-La-Da" - um tema-paródia cujo interesse eu considero ser pouco superior ao de "Yellow Submarine". (não era difícil)

O que resta do álbum... Bem, o que resta é um cardápio ilustrado da importância dos The Beatles na música Rock feita desde então; é um autêntico catálogo de tudo, ou quase tudo, o que se pode fazer no Rock.
Estamos em 1968 e, logo aqui, os The Beatles deixaram muito pouco para inventar. Não que eles tenham inventado alguma coisa no vácuo. Nada disso. Mas tiveram o condão de ir beber aqui e ali, a tudo o que de novo se experimentava na época (estamos nos anos 60 e a palavra-chave é precisamente esta: experimentar), somar essas influências ao seu único sentido melódico e usar o veículo dos The Beatles - na altura, uma das entidades com maior visibilidade no Mundo (lembrem-se do "bigger than Jesus" de John Lennon) - para as espalhar por toda a parte.
De repente, milhões de miúdos foram expostos ao Heavy Metal de "Helter Skelter" (e isso não fez muito bem a alguns deles, veja-se o Charles Manson), ao Avant-Garde de "Revolution #9" (escusado, John, escusado...), ao Country Rock de "Rocky Racoon", ao British Hall de "Honey Pie", bem como a um pouco de todos os géneros que os Beatles já tinham experimentado anteriormente.
Em cima deste bolo, temos ainda a cereja trazida por Eric Clapton, a fazer a estreia de um non Beatle num disco da banda, em "While My Guitar Gently Weeps" - o meu tema preferido dos The Beatles.

Como vimos, a grande novidade que a banda introduziu em "The Beatles" e que é a palavra-chave deste álbum é diversidade. Mas será que esta é a grande valência do White Album? Negativo.
A grande valência de "The Beatles" são as melodias; umas atrás das outras, são descarregadas sobre o ouvinte como uma torrente.
Recordo que este é um álbum duplo, com 30 temas e todos eles com o seu interesse. Até o "Revolution #9" é interessante, só que não o é no âmbito musical.

"The Beatles" é rico devido à sua diversidade, mas é maravilhoso devido à qualidade individual das suas canções. Nem todas são apostas ganhadoras, é preciso dizê-lo. Já referi o escusado (ou deverei dizer Yokonizado?) "Revolution #9", há a parvoíce de "Why Don't We Do It In The Road?" (o tema mais gráfico da banda, que curiosamente não deu polémica alguma) e há também "Don't Pass Me By" - o inevitável rebuçado que deram ao Ringo (bem que podiam tê-lo ajudado a escrever algo melhor). Mas mesmo estas são apostas feitas conscientemente; eles sabiam os riscos que corriam, mas lavaram as mãos e não se importaram com isso em favor da... diversidade.

White Album faz parte da minha banda sonora do Verão, já desde 2008 que assim é. Há qualquer coisa no gesto de ligar a ignição do carro, quando estou debaixo de um sol que, num céu aberto, parece querer torrar o volante, que me induz a pôr "Back In The U.S.S.R." em volume máximo.
"Back In The U.S.S.R." é um tema escrito por Paul McCartney (mas creditado à parceria Lennon-McCartney) , que prova que Paul pode não ser o mais convincente dos roqueiros (era ele o cute Beatle), mas consegue ser um dos melhores. O tema causou na época alguma controvérsia uma vez que, em plena guerra fria, Paul parecia cantar "I'm backin' the U.S.S.R.". A verdade é que os Beatles não queriam tomar lados nesta guerra e a fazê-lo, não seria com certeza o americano, até porque os mercados (na altura barrados) do leste eram muito apetecíveis.

O avião que introduz "Back In The U.S.S.R." (uma das melhores introduções de sempre para um tema) dá o pontapé de saída para o monstro que é o White Album. Curiosamente, o álbum surge numa altura em que a banda já andava às avessas, tendo mesmo levado à saída de Ringo Starr (mas só por umas semanas). Com isto, muitos dos temas foram gravados pelos vários membros da banda, literalmente a solo; com John, Paul e George a gravarem, ao mesmo tempo, temas diferentes, em salas diferentes do mesmo estúdio.
O resultado é que "The Beatles" pode ser visto como o somatório de vários álbuns a solo dos vários Beatles. Contudo, a verdade é que tudo o que aqui ouvimos tem o filtro, os instrumentos e o sentido melódico dos The Beatles; E isso não é de somenos, como se veria uns anos mais tarde, em alguns trabalhos verdadeiramente a solo dos vários Beatles, quando estavam rodeados epanas de yes men.

White Album é o meu álbum de eleição dos Beatles.
No dia em que forem obrigados a escolher um álbum dos The Beatles para levar para uma ilha deserta, esqueçam as colectâneas, esqueçam o Álbum Vermelho, esqueçam o Álbum Azul. Levem o Álbum Branco.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Tears For Fears - "Ready To Start"

"If I was yours, but I'm not... Now I'm ready to start."

Já tinha aqui avisado em Março: os Tears For Fears estão de volta.
Pelo aparato, parecia ser algo em grande e os últimos meses confirmaram: vem aí um novo álbum, o regresso da banda às grandes digressões (nomeadamente à Europa) e uma edição especial de "The Hurting" - o 1º álbum dos TFF.

Estas revelações foram surgindo na internet, muito pela mão de Curt Smith, mas nada de oficial tinha sido anunciado ainda. Até hoje.
Aproximadamente às 00:00, o Facebook oficial dos Tears For Fears repetiu uma imagem enigmática que já tinha sido sido partilhada a semana passada:



Os Tears For Fears estão de volta com... um cover dos Arcade Fire.
Apropriadamente, para dar início às hostilidades, "Ready To Start":





O cover vinha com uma dedicatória especial, onde Curt e Roland parecem querer piscar o olho à geração mais nova, homenageando os artistas que ao longo dos anos foram interpretando temas dos TFF:
Having appreciated artists like Kanye West, Katy Perry, Kimbra, Nas, Gary Jules/Michael Andrews, Adam Lambert & Dizzee Rascal covering and sampling our songs over the past years, we agreed that some reciprocal cross-generational love was in order. We decided to give Arcade Fire a twist of TFF. Enjoy.
Curt Smith e Roland Orzabal

[Aparte: Apreciaram o Kanye West e a Katy Perry? Medo!]

"Ready To Start" é um original dos Arcade Fire, incluído no álbum (muito bom) "The Suburbs" de 2010 e lançado em single na época.
Fica aqui a versão original dos Arcade Fire:



Curiosa, esta escolha de um tema dos Arcade Fire, a banda hipster mais mainstream da actualidade (ou será que é a banda mainstream mais hipster?).
Em qualquer dos casos, é seguramente uma das bandas que mais acende o paradoxo hipster / popular da cultura ocidental. Muito os hipsters devem coçar as cabeças debaixo daqueles chapéus, para decidir se podem gostar ou não dos Arcade Fire.

Mas isto é assunto para todo um outro tópico.
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Voltando ao cover dos Tears For Fears, em primeiro lugar, tenho que rejubilar com a alegria de voltar a ouvir a voz do Roland Orzabal. Que saudades!
Desde "Floating Down The River (Once Again)", lançada em 2006, como faixa bónus no álbum ao vivo "Secret World Live in Paris", que não ouvíamos a voz de Roland Orzabal. Já lá vão mais de 7 anos!

Relativamente ao arranjo desta versão de "Ready To Start", parece que os TFF querem fazer um tributo à época de "The Hurting", ao regressarem em força aos sintetizadores. Acho que falta guitarra neste cover, instrumento que Roland sabe tão bem usar.
Deixo-lhe aqui um repto, que espero que ele siga para o que falta gravar do novo álbum:

More guitar please, Roland! Thank you.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Bruce Springsteen - "State Trooper"

"License, registration, I ain't got none.
But I got a clear conscience 'bout the things that I done"


À custa deste texto, hoje voltei a ouvir o álbum "Nebraska". É o texto que eu sempre quis escrever sobre o álbum alienado de Bruce Springsteen e nunca fui capaz. De leitura obrigatória.

"Hey, somebody out there, listen to my last prayer: deliver me from nowhere."

"Alguém aí que ouça a minha última prece: livrem-me do nada."
Desde o primeiro sopro na harmónica de Bruce Springsteen no tema-título "Nebraska", passando pelos gritos de "State Trooper", até ao último suspiro na mesma harmónica em "Reason To Believe", que Bruce nos leva numa viagem por um túnel escuro, onde não encontramos quaisquer laivos de luminosidade; apenas morcegos, ratazanas e gotas de água gelada que condensou no tecto e que nos caem na nuca, ao passar.

Nada. É este o lugar para onde Bruce Springsteen nos leva em "Nebraska". O lugar do vazio, onde não há redenção, nem esperança; não há vida, nem morte; não há inocentes, nem culpados. Nada disso importa aqui, de qualquer forma. Aqui, só importam as histórias.



"Nebraska" é um álbum insípido, de muito difícil digestão. À falta de grandes adornos sonoros, a audição da música obriga-nos a tomar atenção às escassas melodias e às duras histórias que Bruce vai contando.
Tal como no túnel escuro, das ratazanas e morcegos, as histórias em "Nebraska" são de seres escondidos da luz do dia, exilados do mundo de fora, proscritos pela sociedade. São histórias de criminosos e fugitivos, pessoas a quem a vida virou as costas e que já não têm esperança na sua redenção. Para eles, já nada disso importa: “I guess there’s just a meanness in this world.”, suspira a personagem de Bruce em "Nebraska" (assunto para outro tópico).

Gravado numa cassete durante uma tarde fria de Janeiro, o álbum mostra-nos Bruce sozinho no seu quarto em New Jersey, com a sua guitarra, a sua harmónica e a sua depressão.
1982 foi um ano problemático para Bruce, altura em que foi obliterado por pensamentos suicidas.
Bruce conduzia o seu carro furiosamente de New Jersey até à Califórnia e da Califórnia, de volta a New Jersey, somando quilómetros de estrada na fuga dos seus próprios fantasmas.
(Faço exactamente o mesmo. É nestas pequenas coisas que eucomo homem, me sinto próximo de Bruce.)

"Mr. State Trooper, please don't stop me."

Em "State Trooper", ouvimos Bruce num raro grito histérico e despido, que soma ao desespero da história de um homem que, tal como ele, tal como eu, também conduzia para afastar os seus fantasmas. Sem carta de condução e sem documentos do carro, rogando apenas que a Brigada de Trânsito não o mande parar. Tudo o que ele quer é a solidão do volante, uma companhia que não ponha em causa a sua existência e a sua consciência tranquila.

Em busca da sua própria consciência tranquila, Bruce foi obrigado a fazer terapia para combater a depressão. O seu passado continuava a atormentá-lo: Bruce passava repetidamente em frente à casa dos seus pais, em New Jersey, 3 a 4 vezes por semana
Acerca deste comportamento obsessivo, o seu terapeuta ter-lhe-á dito:

"What you’re doing is that something bad happened, and you’re going back, thinking that you can make it right again. 
Something went wrong, and you keep going back to see if you can fix it or somehow make it right."

Ao que Bruce exclamou, em concordância: 

"Yes! That is what I’m doing!" 

E ao que o terapeuta terá respondido: 

"Well, you can’t."

(...)

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

John Lennon - "#9 Dream"

"Ah böwakawa poussé, poussé"


"Everything is clearer when you're in love."
John Lennon

Volta John, estás perdoado.

Quem quer que tenha acompanhado o blog, pode perceber que John Lennon é o Beatle a quem eu dediquei menos atenção. Já por várias vezes aqui confessei a minha admiração por George Harrison e até Ringo Starr já mereceu dois posts em nome próprio. John tem sido esquecido, mas não por acaso.
(Agora que penso nisso, também estou em falha para com Paul McCartney. A rever.)

Porquê, então, esta ausência de John do blog?
Não, não sou um daqueles extremistas anti-Lennon, que acham que a defesa da facção de Paul McCartney na eterna discussão de "Quem separou os Beatles?" deve ser alimentada com ódio para com a facção de John.
Falando nisso, para um olhar diferente sobre John, visto por um extremista anti-Lennon, leiam este texto. Devido à imagem corrente que temos de John, a leitura do texto chega a ser dolorosa. Mas vale a pena, independentemente do seu conteúdo ser verdade ou mentira, nem que seja para vos pôr a pensar sobre o facto que todas as moedas têm duas faces. Nenhum dos nossos heróis é perfeito; eles, como nós, têm um lado negro.

Eu sei que já me estou a afastar do caminho do assunto inicial; é normal, faço-o sempre. Mas deixem-me divagar, já volto ao caminho inicial.

John, mais do que qualquer outro Beatle, levou com as culpas da separação dos The Beatles. Nem tanto ele, mas sim a Yoko Ono, apesar de ter sido Paul o primeiro a sair da banda.
Sem nunca confirmarem nem desmentirem, os outros membros da banda deixaram o boato criar raízes e durante anos as culpas da separação foram imputadas à infame mulher de John.
Só no ano passado, mais de 42 anos depois da notícia da separação dos The Beatles, Paul admitiu que Yoko não fora a culpada, uma vez que John iria sair de qualquer forma.

Mas será que Yoko está, assim, isenta de culpas? CLARO QUE NÃO. A verdade é que os The Beatles tinham os dias contados, já desde 1968.
John estava com a cabeça na Yoko, no experimentalismo avant-garde e no activismo anti-guerra.
Paul estava com a cabeça em Linda e numa carreira a solo, sem ter que dar satisfações a ninguém.
George estava com a cabeça no espiritualismo, na cultura indiana e no hinduísmo.
O Ringo, coitado, só queria que o deixassem fazer parte da festa.
Portanto, contas feitas, "a culpa" da separação dos The Beatles é de todos (ok, menos do Ringo).
"A culpa", neste caso, é um conceito ridículo. Procurar "a culpa" da dissolução de uma relação que já vive moribunda é ridículo. Isto serve para os The Beatles, como serve para qualquer outra relação interpessoal. O que há a fazer é juntar as peças que nos sobram e seguir em frente. Como os Beatles, que seguiram todos os seus caminhos, todos eles diferentes.

Mesmo tendo em conta estes ensinamentos sociológicos, que a dureza da vida nos transmite, a verdade é que é difícil absolver uma personagem tão macabra como a Yoko Ono. Tão difícil como imaginar o que seria trabalhar com alguém que, a partir de um determinado momento em que conhece alguém, passa a trazer essa pessoa para o seu local de trabalho, "colada" a si, 24 sobre 24 horas por dia. É toda uma nova dimensão para a definição de "sufoco". Tenho pena, a sério que tenho pena do Paul, do George e do Ringo, por terem sido sujeitos a isso.

Talvez tenha sido isso que "vacinou" os Beatles para admitirem a presença de câmaras de filme em Twickenham, enquanto gravavam o (abortado) álbum "Get Back", que depois daria lugar ao álbum "Let It Be". Se levaram com a Yoko, 24 sobre 24 horas, que diferença fariam umas câmaras de televisão?

Volto então à pergunta inicial: qual a razão da ausência de John do blog?
Acho que se deveu a um processo de ostracização subconsciente da minha parte para com o John, devido à Yoko. Também eu lhe imputei as culpas pela separação dos The Beatles, mesmo que subconscientemente.
Esta situação absurda, de uma presença estranha no local de trabalho, faz com que se torne fácil apontar o dedo a Yoko.

Em Março de 2006, tive a oportunidade de ver em Paris, no Cité de la Musique, a exposição "John Lennon, Unfinished Music", patrocinada pela Yoko. Escusado será dizer, que para além de toda a memorabilia alusiva aos The Beatles, a exposição tinha uma forte carga de Yoko Ono. Como se a vida dele fosse dividida em 2 capítulos de igual importância: "The Beatles" e "Yoko Ono". Isto serviu mais ainda para implantar a ideia de culpada, a Yoko.

A outra face da moeda (atenção, que não vão ouvir muitos argumentos a favor dela), foi que Yoko levou o underground psicadélico para os The Beatles. E foi essa pedrada no charco que mudou a música da banda em 1966 e que nos trouxe maravilhas como "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" e "Magical Mystery Tour". Nem tudo foi mau.

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Fast-forward 7 anos, até Agosto de 2013. A primeira semana deste mês foi de John Lennon. Debaixo de um oceano de trabalho, bateu-me a curiosidade e fiz de minha banda sonora de trabalho os álbuns a solo de John: desde o tão afamado "Plastic Ono Band", passando por "Mind Games", ou "Walls And Bridges".
A páginas tantas, deparo-me com "#9 Dream" e...

"Ah böwakawa poussé, poussé"

...foda-se! Por onde é que eu andei? Como é que eu não conhecia isto?

"#9 Dream", como o nome indica, evoca um sonho, um sonho que John teve. John escreveu e produziu o tema à volta disso (daí a sonoridade dreamy psicadélica) e até o refrão "Ah böwakawa poussé, poussé" terá tido origem nesse sonho.



A descoberta da obra a solo de John fez-me pensar acerca da sua posição nos últimos anos dos The Beatles e do que sujeitou os outros membros da banda.
O que fez John, se não seguir o seu coração? No fundo, o que ele sempre fez, foi ouvir o seu coração e agir, sem pensar nas consequências sociais disso mesmo. Será que isso torna a sua atitude inatacável? Obviamente que não, uma vez que ele afectou a vida e o bem-estar dos seus colegas, levando um elemento intrusivo para o seu ambiente de trabalho.
Mas tudo o que John fez, fê-lo por amor; o que para mim é razão suficiente para justificar todas, ou quase todas, as decisões que tomamos na nossa vida.

Volta John, está perdoado.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pink Floyd - "The Final Cut"

i'm spiralling down to the hole in the ground where i hide
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ponto prévio: "the final cut" não é o melhor álbum dos pink floyd. longe disso. tão longe, que quase parece uma banda diferente.

"the final cut" é a cristalização dos pink floyd segundo roger waters, tal como "the division bell" seria mais tarde a cristalização do som da banda segundo david gilmour, ou "the piper at the gates of dawn" fora a materialização dos pink floyd segundo syd barrett.


"the final cut" mostra roger waters como um eucalipto que secara tudo à sua volta na banda. richard wright (o teclista) fora despedido por roger depois da gravação de "the wall" e até nick mason (o baterista) teve uma participação diminuta neste trabalho.




se olharmos para "the final cut" como um álbum a solo de waters, mas um álbum que conta com a participação de david gilmour, então até podemos dizer que é o melhor deles todos. 
para os outros álbuns a solo, roger tentou repetir a fórmula do "grande guitarrista": convidou eric clapton para "the pros and cons of hitchhiking" de 1984; andy fairweather low para "radio kaos" (a besta negra da sua discografia a a solo) de 1987 e jeff beck para "amused to death" de 1992. 
nunca mais teve o mesmo sucesso. afinal, david gilmour é david gilmour e só david gilmour é pink floyd.

mas se compararmos "the final cut" com os outros álbuns dos pink floyd, ele empalidece.

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if i show you my dark side, will you still hold me tonight?
if i open my heart to you and show you my weak side, what would you do?

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"the final cut" não é um trabalho de fácil digestão. o álbum é dedicado a eric fletcher waters - o pai de roger e a temática obsessiva ao longo de toda a sua carreira, principalmente na parte final. 
a música é demasiado apoiada na letra e as melodias praticamente inexistentes, síndrome geral dos trabalhos a solo de waters.
pelo resultado que aqui ouvimos e comparando, por exemplo, com "wish you were here" - o álbum mais ecuménico da banda - é fácil perceber quem é a facção mais musical dos pink floyd.

como ficou aqui provado, quer queira, quer não, roger waters precisa mesmo dos restantes pink floyd para poder deitar cá para fora todo o seu (inequívoco) génio criativo. ao fim de muitos anos, acho que já percebeu isso e terá mesmo tentado fazer as pazes, mas já foi tarde demais.
infelizmente, demorou demasiado tempo a perceber o que o meu pai percebeu à primeira audição de "the final cut". ele, que nunca entendeu uma frase de inglês e sempre se reviu na música dos pink floyd, ao ser deparado com este álbum, demasiado wordy, percebeu logo que ali faltava o toque de david. de david gilmour, pois claro.

a marca de david gilmour é ténue ao longo do álbum, mas quando aparece, bate com força e a música levita para uma nova dimensão.
é o caso do tema-título de "the final cut". quando rebenta a guitarra de gilmour, imediatamente sabemos que estamos a ouvir pink floyd.

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thought i oughta bare my naked feelings
thought i oughta tear the curtain down
i held the blade in trembling hands
prepared to make it but just then the phone rang
i never had the nerve to make the final cut

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Tears For Fears - "Pale Shelter (You Don't Give Me Love)"

"When you don't give me love, you give me pale shelter"


Foi ao som da faixa instrumental de "Pale Shelter" e com a icónica imagem do rapaz descalço, a chorar no vazio (capa do álbum "The Hurting"), como pano de fundo, que em Março deste ano, os Tears For Fears deixaram o aviso - "Este ano vai ser em grande. Preparem-se!".
Nessa semana, logo me apressei a conjecturar neste tópico o que é que poderia vir aí. Uma digressão mundial para relembrar "The Hurting"? Uma edição expandida do álbum de estreia dos TFF? Um novo álbum da banda? Não sabia, mas os níveis de entusiasmo já batiam no tecto.

Ao longo destes meses, foi sendo levantado o véu que tapava estes mistérios, muito por culpa de Curt Smith, que felizmente anda sempre activo nas redes sociais, para nos dar as últimas novidades em primeira mão. E o que é que nos espera, então? Ao que parece, TUDO.

A primeira grande revelação de Curt Smith é que voou até Bath, onde estava Roland Orzabal, para começar as gravações do novo álbum dos Tears For Fears. Alguns temas foram escritos e gravados e entretanto as sessões foram interrompidas, devendo ser reatadas ainda este Verão em Los Angeles, desta feita em território de Curt. Conhecendo a história da banda e o seu modus operandi na criação, gravação e produção de novo material, diria que, na melhor das hipóteses, poderemos esperar o álbum daqui a sensivelmente um ano. Aguardemos.

Antes disso, os Tears For Fears irão voltar certamente à estrada e, julgando pela dica de Curt Smith há umas semanas no Twitter, fazer o seu tão aguardado regresso à Europa, para uma digressão. quase 10 anos depois.
Faço desde já a promessa: a não ser que me seja, de todo, impossível, lá estarei presente, seja onde for.

Finalmente e antes disso ainda, esperar-nos-á uma pérola já há muito aguardada pelos fãs dos Tears For Fears: uma reedição de luxo, expandida e remasterizada do 1º álbum da banda "The Hurting". Tal como eu havia projectado aqui.

Êxtase... Puro êxtase. Diz o povo que "cada maluco com a sua mania" e eu, certamente, tenho as minhas.
Foi assim, em puro êxtase, que eu me senti quando dei de caras com a notícia, no fabuloso blog Super Deluxe Edition, cujo autor contribuiu para a compilação da caixa (o que significa que ainda há esperança para o meu dream job).
O entusiasmo era tanto, que à primeira leitura que dei do texto consegui ler muito pouco. Tive que ler 3 a 3 vezes para conseguir processar toda aquela informação. Que mais não seja, porque fiquei vidrado com esta imagem:


Deixemo-nos de rodeios e vamos então aos pormenores sobre o conteúdo da caixa de "The Hurting", que nos chegará pelas mãos da Universal a 21 de Outubro de 2013:

Tears For Fears - "The Hurting" [3CD+DVD] (2013)

Disco 1: "The Hurting" [Álbum original] (1983)
1. "The Hurting" (4:20)
2. "Mad World" (3:55)
3. "Pale Shelter" (4:34)
4. "Ideas As Opiates" (3:46)
5. "Memories Fade" (5:08)
6. "Suffer the Children" (3:53)
7. "Watch Me Bleed" (4:18)
8. "Change" (4:15)
9. "The Prisoner" (2:55)
10. "Start of the Breakdown" (5:00)


Disco 2: B-Sides And Remixes
1. "Suffer the Children" [7" Version] (3:36)
2. "Pale Shelter (You Don’t Give Me Love)" [Single Version] (3:55)
3. "The Prisoner" [Single Version] (2:40)
4. "Ideas As Opiates" [Single Version] [Lado B de "Pale Shelter"] (3:54)
5. "Change (New Version)" (4:33)
6. "Suffer the Children (Remix)" (4:15)
7. "Pale Shelter (You Don’t Give Me Love) (Extended Version)"  (6:25)
8. "Mad World (World Remix)" [Lado B de  "Pale Shelter"] (3:30)
9. "Change (Extended Version)" (5:54)
10. "Pale Shelter (New Extended Version)" (6:41)
11. "Suffer the Children [Instrumental]" (4:26)
12. "Change" [Single Version] (3:52)
13. "Wino" [Lado B de “Suffer the Children”] (2:17)
14. "The Conflict" [Lado B de “Change”] (4:02)
15. "We Are Broken" [Lado B de  "Pale Shelter (You Don’t Give Me Love)"] (4:03)
16. "Suffer The Children (Promo CD Version)"


Disco 3: Live Sessions
John Peel Sessions (1982.09.01):
1. "Ideas As Opiates" (3:51)
2. "Suffer The Children" (4:00)
3. "The Prisoner"
4. "The Hurting" (3:51)
Kid Jensen Sessions (1982.10.20):
5. "Memories Fade" (4:21)
6. "The Prisoner"
7. "Start Of The Breakdown" (3:45)
8. "The Hurting" (3:47)
"The Way You Are" single:
9. "Start of the Breakdown (Live in Oxford)" (5:53)
10. "Change (Live in Oxford)" (4:36)


Disco 4 (DVD): "In My Mind’s Eye"
1. "Start of the Breakdown"
2. "Mothers Talk"
3. "Pale Shelter"
4. "The Working Hour"
5. "The Prisoner"
6. "Ideas As Opiates"
7. "Mad World"
8. "We Are Broken"
9. "Head Over Heels"
10. "Suffer the Children"
11. "The Hurting"
12. "Memories Fade"
13. "Change"
Nota: A duração das faixas não é oficial, foi retirada da Wikipedia e dos meus registos.


Para além da música, a caixa irá conter também uma réplica do livro da digressão (tour programme) de 1983 dos Tears For Fears, bem como um livro de capa dura, de 34 páginas, com detalhes sobre a gravação do álbum e algumas fotos nunca antes vistas publicamente.

O vídeo já tinha sido lançado em 1984 em VHS e vê agora a sua 1ª aparição em DVD. Infelizmente, parece que vamos ter novamente aqueles irritantes efeitos especiais dos anos 80. Mas não se pode pedir tudo.

"I ask for more and more. How can I be sure?"

A música, essa foi toda remasterizada a partir das fitas "master" (master tapes) no estúdios de Abbey Road, pelo conceituado engenheiro acústico Peter Mew. Mew é conceituado, mas nos últimos anos não necessariamente pelas melhores razões. No fim dos anos 90 / início dos 00, foi responsável pelas remasterizações do catálogo de David Bowie na Virgin e da compilação "1" dos The Beatles.
As remasterizações de Bowie fizeram a sua música soar estéril, digital, sem o afago que as gravações analógicas nos proporcionam. Já a compilação "1" tem o volume estupidamente alto, com a consequente perda de dinâmica e sensibilidade. Uma bagunça auditiva.

Esperemos que Peter Mew largue as ferramentas de redução de ruído das fitas originais de "The Hurting" e nos traga uma remasterização aconchegante, como se estivéssemos a ouvir o velhinho vinil do álbum.

Já vimos o que a caixa tem, falta saber o que não tem. Relativamente às minhas sugestões neste post, o que é que foi deixado de fora? Muito pouco.
Quanto aos singles lançados na época, de fora desta caixa ficaram apenas a versão Extended de "The Way You Are" (um dos temas mais fracos que já foi gravado pelos TFF), e (infelizmente) "Saxophones As Opiates" - um lado B de "Mad World", que é uma versão de "Ideas As Opiates", mas onde a voz é substituída pelo saxofone. Segundo Paul Sinclair, foi a própria banda que vetou "Saxophones", o que é uma pena.
O saxofone é um dos meus instrumentos preferidos e o seu uso nesta faixa resulta muito bem. Era uma das preciosidades que me faltava. Com esta ausência, penso que "Saxophones" passa a ser o único tema dos TFF que nunca foi lançado em CD.

Para além destas 2 faixas, a Universal não incluiu também o concerto gravado para a BBC no Hammersmith Palais, nem o vídeo do programa alemão Rockpalast. Paciência, ao menos temos este material disponível à borla, para quem procurar devidamente.
Em contrapartida, temos uma versão de "Suffer The Children" que eu desconhecia, lançada num disco promocional em 1989, para fechar o disco de raridades deste set.

"How can I be sure? When your intrusion is my illusion
How can I be sure? When all the time you changed my mind"

Uma das faixas que aparece mais vezes na caixa é "Pale Shelter", tema que foi lançado em single, em versões diferentes, por 3 vezes (!!) entre 1982 e 1983. "Pale Shelter" foi gravado originalmente em 1982 e lançado em single com o nome de "Pale Shelter (You Don't Give Me Love)", ainda antes da gravação do álbum "The Hurting", numa versão mistura por Mike Howlett.
Para o álbum, o tema seria regravado e rebaptizado para apenas "Pale Shelter".

O facto de terem nomes diferentes ajuda a perceber qual é qual, por entre a confusa discografia dos TFF nesta altura, mas eu prefiro muito mais o nome "Pale Shelter (You Don't Give Me Love)", do que o abreviado "Pale Shelter". Manias.

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ADENDA:

Em baixo, fica o resumo das faixas lançadas em Single pelos Tears For Fears na era de "The Hurting". A verde estão indicadas as faixas incluídas no material bónus da caixa, sendo que as versões de álbum de "Mad World" e "Pale Shelter" estarão, obviamente, também incluídas.
Note-se que a versão canadiana de "Pale Shelter (You Don't Give Me Love)", lançada em 1985 (para capitalizar o sucesso de "Songs From The Big Chair") não é mais que um novo edit da versão Extended deste tema lançada em 1982.








Sim, eu tenho uma folha de Excel com isto tudo. Sim, eu sei que isso pode indicar um problema. Manias.