sábado, 3 de novembro de 2012

David Bowie - "Time"

"Love has left you dreamless. The door to dreams was closed."



Perdido entre a ressaca do sucesso de "The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars" e a teatralidade de "Diamond Dogs", o álbum "Aladdin Sane" aparece como uma espécie de filho bastardo de Ziggy Stardust. Uma compilação desconexa de temas sobre decadência, o álbum revela (como normalmente acontece) o momento que David Bowie viva na altura.
"Ziggy goes to America", foi como Bowie descreveu "Aladdin Sane".



"Aladdin Sane" é, de facto, o outro álbum de Ziggy Stardust. Mas quem daqui concluir que "Aladdin Sane" não tem motivos de interesse, não pode estar mais longe da verdade.

David Bowie introduzira este personagem ao Mundo em Julho de 1972, com "The Rise And Fall Of Ziggy Stardust" (chamemo-lo apenas "Ziggy Stardust" a partir de agora...) e este trabalho elevara-o ao estatuto de super-estrela internacional. A digressão americana que se seguiu, serviu de inspiração para grande parte da escrita de "Aladdin Sane".

"All I had to give was the guilt for dreaming."

Experimentando um estilo de vida hedonístico, onde o álcool, as drogas e o sexo fácil eram partes do quotidiano, a personalidade absorvente de David Bowie dissolvia-se dia após dia naquela espiral decadente.
Enquanto tal acontecia, Bowie ia escrevendo canções, desenvolvendo uma fixação na cultura americana; canções que resultariam em "Aladdin Sane", lançado em Julho de 1973. Estas canções não formavam uma história, nem seguiam uma linha condutora, como em "Ziggy Stardust". Eram apenas páginas soltas de uma vida agarrada ao ponto mais alto do céu, enquanto batia no fundo do poço.
"Strung out on heaven's high, hitting an all time low", escreveria Bowie no autobiográfico "Ashes To Ashes", uns anos mais tarde.

Neste sentido, "Aladdin Sane" é um álbum que, no meio da sua esquizofrenia e falta de fio condutor, resulta pela força individual dos temas que o compõem. E aqui, olhando para os temas individualmente, arrisco dizer que não fica a dever nada ao seu antecessor.

"Time - He's waiting in the wings, he speaks of senseless things... His script is you and me"

O meu momento preferido de "Aladdin Sane" surge no início do Lado B. "Time" foi escrito por David Bowie em Nova Orleães, Novembro de 1972, durante a já referida digressão de Ziggy Stardust pelos EUA.
O tema foi descrito pela crítica como uma peça burlesca e comparada à música de cabaret de Jacques Brel. Tal como o álbum onde aparece, "Time" dividiu as opiniões, entre os que aclamavam a nova abordagem erudita de Bowie e o melodramatismo do tema e os que achavam que Bowie se devia cingir ao Rock. Como a história se encarregaria de provar, Bowie fez muito bem em nunca se cingir a qualquer estilo definido e os seus melhores trabalhos resultariam sempre das fusões musicais nascidas na sua cabeça.



O nome do álbum é um trocadilho com "A lad insane", referindo-se obviamente ao próprio David Bowie. Embora "Aladdin Sane" possa ser visto como um novo personagem, tendo em conta a sugestiva pintura facial que Bowie apresenta na capa, Aladdin não é mais que um desenvolvimento de Ziggy Stardust. Mesmo a digressão de promoção a "Aladdin Sane" foi apenas a continuação do espectáculo de Ziggy Stardust, acompanhado dos Spiders From Mars.

No fim da digressão, num concerto no lendário Hammersmith Odeon a 3 de Julho de 1973, David Bowie matou Ziggy Stardust e seguiu em frente com a sua vida e a sua carreira.



David Bowie ressuscitaria David Bowie uma última vez no Marquee, em Outubro de 1973, curiosamente para interpretar "Time", numa actuação para a televisão: