segunda-feira, 16 de julho de 2012

Radiohead - "Street Spirit (Fade Out)"

"I can feel death, can see its beady eyes"



Em homenagem ao concerto de ontem dos Radiohead no Alive (que eu, com muita pena, não assisti), hoje regresso ao álbum "The Bends" para "Street Spirit (Fade Out)", o tema que fechou o alinhamento de ontem.

A 2ª metade dos anos 90 foram tempos gloriosos para os Radiohead, com 2 álbuns de enorme popularidade, que os transportaram para a linha da frente do indie rock britânico. Tanto "The Bends" de 1995, como "OK Computer" de 1997 são dois álbuns extremamente sólidos, duas marcas indeléveis dos anos 90. Estes foram foram os álbuns "blockbuster" dos Radiohead, que deram a conhecer ao Mundo o seu nome e levaram a sua música para as rádios mainstream. Depois disso, os Radiohead trocaram as voltas a toda a gente e lançaram "Kid A", um álbum tão afastado do registo de "OK Computer", que arrisco a chamar de comercialmente suicida. Mas a verdade é que a banda se safou com a aposta arriscada e fizeram um mergulho ainda mais profundo na electrónica nos álbuns seguintes.

"This machine will not communicate, these thoughts and the strain I am under..."

Escrito em 1993, os Radiohead deixaram "Street Spirit (Fade Out)" para o fecho do seu 2º álbum "The Bends", sendo o último single retirado deste álbum. "Street Spirit" está para o Reino Unido como "Creep" está para os EUA, uma vez que foi o 1º single a ter verdadeira atenção no país de origem dos Radiohead, chegando ao 5º lugar nas tabelas.
Thom Yorke descreve este tema como um dos mais profundos e mais pesados da banda, "rejeitando" mesmo a sua autoria. "O tema escreveu-se a si próprio", diz. Para o tocar ao vivo, Thom tem que o deixar para o fim do concerto, como fez ontem, tal a sua carga dramática... Como não consigo descrever o que Yorke quer dizer com isto, pelo menos não tão bem como o próprio, deixo aqui Thom Yorke em discurso directo, sobre "Street Spirit":

""Street Spirit (Fade Out)" is our purest song, but I didn’t write it. It wrote itself. We were just its messengers; its biological catalysts. Its core is a complete mystery to me, and, you know, I wouldn’t ever try to write something that hopeless. All of our saddest songs have somewhere in them at least a glimmer of resolve. Street Spirit has no resolve. It is the dark tunnel without the light at the end. It represents all tragic emotion that is so hurtful that the sound of that melody is its only definition. We all have a way of dealing with that song. It’s called detachment. Especially me; I detach my emotional radar from that song, or I couldn’t play it. I’d crack. I’d break down on stage. That’s why its lyrics are just a bunch of mini-stories or visual images as opposed to a cohesive explanation of its meaning. I used images set to the music that I thought would convey the emotional entirety of the lyric and music working together. That’s what’s meant by ‘all these things you’ll one day swallow whole’. I meant the emotional entirety, because I didn’t have it in me to articulate the emotion. I’d crack…

Our fans are braver than I to let that song penetrate them, or maybe they don’t realise what they’re listening to. They don’t realise that Street Spirit is about staring the fucking devil right in the eyes, and knowing, no matter what the hell you do, he’ll get the last laugh. And it’s real, and true. The devil really will get the last laugh in all cases without exception, and if I let myself think about that too long, I’d crack.

I can’t believe we have fans that can deal emotionally with that song. That’s why I’m convinced that they don’t know what it’s about. It’s why we play it towards the end of our sets. It drains me, and it shakes me, and hurts like hell every time I play it, looking out at thousands of people cheering and smiling, oblivious to the tragedy of its meaning, like when you’re going to have your dog put down and it’s wagging its tail on the way there. That’s what they all look like, and it breaks my heart. I wish that song hadn’t picked us as its catalysts, and so I don’t claim it. It asks too much. I didn’t write that song."


Neste discurso, Thom toca em 3 pontos fundamentais: "Street Spirit (Fade Out)" é o tema mais depressivo dos Radiohead e é o único que não tem nenhum laivo de esperança associado ("um túnel escuro, sem luz no fim"); esta carga depressiva faz com que o próprio rejeite a autoria do tema; Thom "atira-se" aos fãs que nos concertos rejubilam ao entoar a letra do tema a plenos pulmões, convencido que "eles não sabem do que se trata".

O que dizer? Estas palavras são "clássico" Thom Yorke. Tão densas e tão profundas, que a sua análise já nos leva a um estado quase-depressivo. Este sofrimento é a base de toda a música dos Radiohead e eu acredito piamente que Thom sofra mesmo. Ele é tão fiel à sua arte, que eu não duvido que, para interpretar dignamente "Street Spirit", ele sofra um desgaste anímico tão forte, que a tenha mesmo que deixar para o fim dos concertos.
Este sofrimento, este lento caminhar na corda bamba da depressão é a base de toda a música dos Radiohead e é por isso mesmo que eu sou obrigado a consumi-los em doses pequenas, espaçadas no tempo. De outra forma, dava em maluco. Em maluco, ou em Thom Yorke, mas sem a habilidade de tocar a guitarra. Nenhuma das duas me parece saudável.

"Immerse your soul in love..."

7 comentários:

  1. Eu fui aos 3 dias do Alive e comprei o passe em Dezembro, pouco depois de ter sido confirmado que eles vinham. Isto dito assim, pareço daquelas fãs fervorosas lol Eu nem sei se me considero propriamente fã deles porque se gosto muito do “The Bends” (o meu preferido) e do “OK Computer” e mais recentemente do “In Rainbows”, nunca compreendi completamente o “Kid A” e o “Amnesiac” e não me entram facilmente no ouvido… Os restantes passam-me um bocado ao lado (se bem que o “Hail To The Thief” também tem lá boas músicas).

    Mesmo não gostando deles incondicionalmente e sabendo que actualmente as setlists nem reflectem os meus álbuns favoritos (dos 3 que mais gosto, o “In Rainbows” acaba por ser o que tem mais expressão ao vivo nesta fase), não queria deixar passar a oportunidade de os ver ao vivo. Já andava há anos à espera disso.

    Gostei mesmo muito do concerto, teve momentos perfeitos. Acho que pela primeira vez ouvi com outros ouvidos algumas músicas do “Kid A” e do “Amnesiac”. A voz do Thom Yorke é qualquer coisa de inexplicável e tê-la ouvido finalmente ao vivo… :)

    Pegando no teu post, o momento do concerto (para mim e julgo que para muita, muita gente tendo em conta as reacções) foi a “Paranoid Android”. Isto é, até eles tocarem a “Street Spirit (Fade Out)”. Tendo em conta o que escreveste, nem sequer é preciso descrever esse momento porque é tudo isso. É aquela música dolorosa e brutalmente linda. Sabia a carga que esta música tem mas não imaginava a dimensão da mesma até ler este teu post… Compreendo que para ele que a escreveu (aliás, que permitiu que ela se escrevesse ;) ) se torne estranha a reacção das pessoas ao vivo mas a Música é mesmo assim. Quando passa a ser conhecida deixa de pertencer a quem a criou e está aberta a todas as interpretações e sentimentos de quem ouve.

    Só mesmo em forma de apontamento: fui ao Alive pelos Radiohead mas “o” concerto desta edição foi mesmo o dos The Cure. Que 3 horas tão incríveis! E eu não os conheço muto bem, só mesmo as músicas mais famosas. A seguir ao do Bruce, que já me “estragou” para o resto do ano (no mínimo…) em termos de concertos porque sei que não vou ver nada melhor (e já vi uns quantos muito bons entre o Primavera Sound no Porto e agora o Alive), foi o concerto que mais gostei este ano.

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    1. Até há poucas semanas, eu estava mais ou menos na mesma situação que tu! Também comprei o bilhete para os 3 dias logo em Dezembro, mal os Radiohead foram confirmados, mesmo não achando piada nenhuma ao "The King Of Limbs". No fim, acabei por não ir ao concerto, com muita, MUITA pena minha :( Hoje no trabalho todos falavam de como tinha sido fantástico, portanto... já sei! :P

      Como tu, também eu sou maior apreciador dos "clássicos" Radiohead, aqueles álbuns que na minha opinião vão mesmo permanecer como as grandes marcas da banda: o "The Bends" e o "OK Computer". Adoro estes álbuns, principalmente o "OK Computer". A esta lista, ainda junto o "Kid A", que embora já esteja do outro lado da margem, também acho que vai ser recordado com um dos grandes álbuns dos Radiohead. O "Amnesiac" e o "Hail To The Thief" têm o seus momentos, mas o "The King Of Limbs" não me diz nada. O "In Rainbows" é a minha grande falha, uma vez que acho que só dei uma "oportunidade" ao álbum e nunca mais o ouvi.

      Apesar da setlist ser muito forte nos 2 últimos álbuns, fiquei mesmo cheio de pena de não ter ido... :( Afinal o grande momento do concerto foi o "Paranoid Android", ou o "Street Spirit"? :P

      Os The Cure eram outra curiosidade minha para satisfazer neste festival, mas ainda não foi desta... Já li que foi grande concerto, mas confesso que não sou conhecedor da obra deles, para além dos êxitos radiofónicos...
      O que é que gostaste mais no Primavera Sounds no Porto? :)

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    2. São mesmo muito chatos, esses imprevistos :/ mas eles prometeram que não deixam passar outros 10 anos sem cá voltarem ;)

      Eu ouvi o KOL uma vez e disse mesmo: "epah não. Não fiz mal a ninguém para ter de ouvir isto novamente" :P Há algumas que resultam bem ao vivo por acaso mas em álbum, meh...

      Eu tenho um carinho muito especial pelo "In Rainbows", há ali músicas que gosto mesmo muito. Tem pérolas destas: http://www.youtube.com/watch?v=-kCKob1YKOU

      Depois de tocarem a "Paranoid Android" eu pensei mesmo que não podia melhorar, aquele seria o ponto alto do concerto. Mas eles trocaram-me as voltas com a "Street Spirit" e tive de corrigir o meu pensamento :P

      O melhor concerto para mim do Primavera foi Afghan Whigs, muito bom mesmo! Wilco e Mercury Rev também gostei imenso.
      Rufus Wainwright, Spiritualized e Kings Of Convenience foram concertos muito fofinhos :) Tinha ficado um bocado desiludida com Spiritualized em 2008 no Alive mas desta vez correu bem melhor e estava na segunda fila, vi tudo mesmo ali à frente e a cair uma chuvada enorme (o que foi lindo em momentos com músicas como esta: http://www.youtube.com/watch?v=iB7E1D_3Na4).

      Depois também foi interessante (mas pensei que iria gostar mais) Yo La Tengo. Flaming Lips não me enchem as medidas, Suede também não… The XX só deu para ouvir duas ou três músicas porque o pessoal meu amigo estava cansado e estávamos bastante encharcados lol
      Tive pouca sorte com este festival tendo em conta que uma das bandas que me fez comprar o bilhete cancelou umas semanas antes: Explosions In The Sky. Também tinha bastante curiosidade em vez a Björk e também cancelou. Depois no próprio dia, momentos antes do concerto (por culpa da organização já que o palco literalmente meteu água com a chuva), cancelaram Death Cab For Cutie, outra banda que queria mesmo muito ver :/ mas pronto, valeu pelos concertos que consegui efectivamente ver e foram bons.

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    3. Eu ouvi o KOL uma vez e disse mesmo: "epah não. Não fiz mal a ninguém para ter de ouvir isto novamente"
      My thoughts exactly... :S
      ...e, no entanto, foi um álbum aclamado quase transversalmente pela crítica.
      Isto leva-me a recordar um pensamento recorrente que tenho sobre os Radiohead: eu gosto bastante da banda, mas eles têm algo que eu quase diria que me "impede" de gostar ainda mais deles... alguns fãs. Passo a explicar: quando lançaram o "The King Of Limbs", um amigo meu no faceboook postou (lol) o seguinte: "Os Radiohead têm um novo álbum e ainda não ouvi, mas nem preciso, porque já sei que vai ser brilhante!"
      Pá... "Ainda não ouvi e já sei que vai ser brilhante"?! Eu sou o maior fã que tu podes conhecer do Freddie Mercury e nunca poderia dizer uma coisa destas dele, de tal forma que se me perguntares o que eu acho da sua carreira a solo, eu respondo-to com alguns "meh"'s e "eerh"'s... O sentido crítico relativamente aos Radiohead, para algumas pessoas, desvaneceu. Hoje eles são as "roupas do Rei", que pode ir bem vestido, mal vestido ou sem vestido, que terá sempre uma indumentária fabulosa. Eu acho óptimo que eles divaguem nas direcções que bem entenderem (assim o fez também, nos anos 70, um dos meus artistas preferidos: o David Bowie), mas não é por isso que tudo o que eles fazem tem que ser fantástico. Tenhamos calma e capacidade crítica. Claro que com isto, corro o risco de me aparecerem aqui uma série de fãs enfurecidos... lol
      Em qualquer dos casos, mantenho a minha tristeza por ter falhado o concerto do Alive. Vá lá que esta semana compensei com um grande concerto no Music Box dos Destroyer! :)

      Tomei nota das dicas que deste em relação às bandas que estiveram no Primavera, depois dou uma checkada! ;-)

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    4. SIM, é mesmo isso! Radiohead é aquela banda que tudo o que faz, a crítica e os fãs acham sempre brilhante. É que nem se trata de lhes perdoarem algum passo em falso, é a ideia que eles nem sequer dão passos em falso. Isso para mim não dá porque tal como tu, sei reconhecer quando há álbuns ou músicas das minhas bandas do coração que não valem nada ou perto disso lol Aliás, acho que isso até se traduz na visão geral que se tem das coisas. Se há algo que não concebo são dogmas, a ideia que há coisas inquestionáveis ou que não são passíveis de ser criticadas. Mas pronto, se começo a falar disso desvio-me do assunto em causa :P E é melhor não enfureceres os fãs deles não (e claro que não os ponho a todos no mesmo saco) mas há uns demasiado fundamentalistas lol… Uma pessoa não pode dizer nada menos bom sobre eles que é logo trucidada.

      Não conheço Destroyer (agora foste tu a lançar o nome de uma banda que me é desconhecida :P) mas vou tratar de conhecer ;)
      Algumas das bandas do Primavera eu também não conhecia, foi um festival fértil em descobertas.

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    5. "É que nem se trata de lhes perdoarem algum passo em falso, é a ideia que eles nem sequer dão passos em falso."

      Como de costume, estavas a falar muito bem! Subscrevo inteiramente a tua opinião relativamente aos dogmas. Exceptuando, obviamente, aqueles que dizem que o Freddie Mercury é a voz divina! :P Mas até esse cometia as suas argoladas e de que maneira...
      (Espera aí... Voz divina? O homem era bissexual e levava uma vida "devassa"... Se a malta ultra-religiosa lê isto, já não tenho só os fãs dos Radiohead à perna :P)

      Destroyer é muito bom. É um projecto do Dan Bejar (dos The New Pornographers) que no último álbum fez uma incursão naquilo que eu posso chamar (aqui vou arriscar um estilo) Pop electrónico chill out dos anos 80 (lol). Foi um dos meus álbuns preferidos de 2011 e estava já há muito tempo à espera de uma oportunidade para os ver ao vivo numa sala decente em Lisboa. Tinham cá vindo no ano passado ao Sudoeste (lol para a adequação da banda no evento), mas a miudagem preferiu ir para a primeira fila do Snoop Dogg e os Destroyer tocaram para a bela assistência de 30 a 50 pessoas.
      8 músicos no palco minúsculo do Music Box (à frente: Bejar, saxofonista, trompetista e teclista; atrás: 2 guitarristas, baixista e baterista) e a casa a rebentar pelas costuras. O Music Box encheu e eles tocaram durante 2 horas. Foi brutal :)

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    6. Não te cuides não, qualquer dia mandam-te o blog abaixo! Onde já se viu o Freddie Mercury e a palavra “divina” na mesma frase?! Nuno, Nuno… :P

      Por acaso ainda só vi um concerto no Music Box, de Mono (uma banda de post-rock japonesa). Foi um concerto espetacular! caso não conheças, esta é uma música do álbum que eles vieram promover: http://www.youtube.com/watch?v=cHqY0uIamjc (é daquelas músicas que se fechares os olhos e não pensares em nada, dás por ti noutro mundo qualquer…). Não sei se é um tipo de música que gostes mas é um género que tem bandas brilhantes e que gosto bastante: Mogwai, Explosions In The Sky, A Silver Mt. Zion, God Is An Astronaut, Sigur Rós etc etc.

      Falando em concertos brutais, na 3ª feira fui ver Bon Iver ao Coliseu e enfim… há uma frase do “American Beauty” que nunca mais me saiu da cabeça desde que vi o filme pela primeira vez e ilustra bem momentos como aquele: Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in. Sim, é uma lamechice mas que fazer? :P desde 2008 que estava à espera deste concerto, quando saiu o primeiro álbum… valeu tanto a pena esperar :)

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